Felipe Oliveira Baptista expõe gravuras, colagens e fotografias em Paris

O antigo director artístico da Lacoste e da Kenzo tem estado no último ano a criar “ao seu ritmo” num pequeno atelier que alugou em Paris. À revista M do jornal Le Monde revelou como surgiu a exposição Unfolding, que inaugurará a 13 de Maio na Untitled 19, na capital francesa.

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Felipe Oliveira Baptista quando esteve a montar a sua exposição no MUDE NFS - Nuno Ferreira Santos

Felipe Oliveira Baptista vai inaugurar a 13 de Maio uma exposição em Paris. Unfolding mostrará desenhos, colagens e fotografias do antigo director artístico da Lacoste e da Kenzo e poderá ser vista até 28 de Maio na Untitled 19, na Rue de Lancry, uma boutique da grife de moda artesanal criada pelos seu amigos Pascal Humbert e François Joos e que durante as próximas semanas será transformada numa galeria de arte.

Numa entrevista que deu à revista M do Le Monde desta sexta-feira, o criador português de 46 anos conta à jornalista Sophie Abriaque que desde que se afastou do mundo da moda, em Junho do ano passado, quando terminou o seu contrato com a marca de luxo Kenzo, alugou um pequeno atelier em Paris, onde fica com falta de rede no seu telemóvel e se tem dedicado “a criar e a viver ao seu ritmo”, explorando novas técnicas artísticas. Começou por vasculhar nos seus arquivos e depois surgiu-lhe a ideia de começar a trabalhar para uma exposição.

Felipe Oliveira Baptista nasceu nos Açores, cresceu em Lisboa, estudou em Londres, onde se licenciou em design de moda na Universidade na Kingston, e vive em Paris. Desenha desde criança em tudo o que encontra (de papéis velhos a areia): são “corpos fragmentados, por vezes rostos torturados ou outras figuras abstractas que se devoram ‘como plantas carnívoras’. Ele desenha corpos febris e sensuais, que se entrelaçam com atracção e repulsa ‘sem romantismo’”, descreve a jornalista Sophie Abriaque no Le Monde.

Coleccionador de papéis que encontra em todo o lado, Felipe Oliveira Baptista tem estado a fazer os seus esboços em folhas de papel grosso de várias cores vindas do arquivo antigo de um médico e, revela ao Le Monde, durante o confinamento aventurou-se a desenhar dentro das portas dos seus armários. Muitos dos seus desenhos são depois retrabalhados e transformados em colagens. Na exposição vai mostrar gravuras, exibidas em caixas transparentes de acrílico, e litografias produzidas pelo Atelier RLD e também fotografias a preto-e-branco de cactos e árvores centenárias do Jardim Botânico de Lisboa (os pais deram-lhe uma máquina de fotografar aos 12 anos de que nunca se separou) ou de desenhos que fez na areia no Brasil.

Mais sobriedade

Desde o dia 4 de Maio, quando passou um ano da morte de Julião Sarmento (1948-2021), está em exibição no jardim da sede da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, a escultura Marie, de 2015, que pertence à colecção do Centro de Arte Moderna (CAM) e foi originalmente feita para uma exposição na Gulbenkian em Paris. A obra, uma figura feminina em resina que enverga um vestido de seda preto, foi criada por Julião Sarmento em colaboração com Felipe Oliveira Baptista. O criador de moda fez dez vestidos idênticos para esta escultura e à medida que estes se vão deteriorando são substituídos (actualmente está a ser exibida a segunda peça de roupa concebida por ele).

Em 2014, Felipe Oliveira Baptista teve uma exposição com 130 peças de vestuário no MUDE-Museu do Design e da Moda, em Lisboa (na época, a mais vista de sempre do museu). Mas esta será a primeira vez que organiza uma exposição para apresentar e vender as suas obras. Mais tarde poderá transformar os seus desenhos em tapeçarias ou esculturas.

Ao Le Monde disse que quer “permanecer livre para explorar várias práticas artísticas ao mesmo tempo”. Ainda se considera um designer de moda (além de ter criado a sua marca própria, trabalhou para a Max Mara, a Cerruti, a Nike, passou oito anos na Lacoste e dois na Kenzo). Se lhe vier a ser apresentado um projecto de moda que considere apelativo, não põe de lado voltar a desenhar vestuário. Mas confessou ao diário francês que se sente cada vez mais desconfortável com o caminho da indústria da moda em geral, na forma como é poluente e prejudicial ao planeta.

Pensa regressar com a família a Lisboa no próximo Verão, onde ficarão a viver num apartamento vazio que irão mobilando com o tempo. “O estado do mundo exige mais sobriedade”, disse o artista português ao jornal francês.

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