Ferrovia: o futuro é sustentável, colectivo e público

O investimento na ferrovia não deve, também por isso, esquecer os territórios do interior, sob pena de, uma vez mais, perderem capacidade competitiva relativamente ao litoral. Pelo contrário, deve encurtar distâncias às suas famílias e potenciar progresso às empresas que aí desenvolvem actividade.

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Pedro Fazeres

A capacidade de as civilizações inventarem novas maneiras de se deslocarem foi, ao longo da História, um factor determinante para o seu desenvolvimento. De facto, o investimento na ciência e na engenheira em particular – permitiu que se atingissem formas bastante rápidas e económicas de o fazermos. O automóvel como factor de desenvolvimento predilecto começa a ser progressivamente ultrapassado e a consciência ambiental evidencia a urgência da mudança. A aposta na ferrovia e na alta velocidade, em particular, é fundamental para atingirmos, em Portugal, os compromissos ambientais, económicos e sociais a que nos propomos.

Portugal é um dos países da Europa mais bem posicionado para atingir a neutralidade carbónica. Na geração de electricidade, por exemplo, tem-se vindo a fazer uma aposta significativa nas fontes renováveis face à extinção das centrais termoeléctricas. No que toca à mobilidade, os automóveis representam ainda, actualmente, uma larga percentagem dos gases com efeito de estufa libertados para a atmosfera.

É hoje impensável que o futuro da mobilidade de uma sociedade desenvolvida não passe por alternativas ambiental, económica e socialmente sustentáveis. Apenas com investimentos infra-estruturais e humanos sem precedentes em alternativas amigas do ambiente, socialmente responsáveis e economicamente viáveis será possível atingirmos esses objectivos com a celeridade que é exigida.

Atendendo a isso, o comboio apresenta vantagens evidentes: é movido a electricidade – podendo esta ser gerada por fontes não poluentes –, transporta simultaneamente dezenas ou centenas de passageiros e atinge velocidades potencialmente superiores.

Um investimento forte nas infra-estruturas é, por isso, indispensável para que tenhamos uma rede ferroviária eficiente. Existem hoje troços em Portugal que devido às suas limitações impedem que se tire o máximo partido das características mecânicas do comboio, não criando condições para que seja possível atingir uma velocidade elevada e que justifique às pessoas utilizarem esta alternativa relativamente ao carro.

A Infraestruturas de Portugal apresentou recentemente um plano de requalificações infra-estruturais na rede ferroviária nacional que permitirão, por exemplo, que uma viagem de comboio entre Lisboa e Porto passe a demorar apenas 1h15 face às 2h48 actuais. Este tipo de aposta abre a porta para que o futuro da mobilidade seja mais amigo do ambiente e mais colectivo.

Não devemos, no entanto, descartar a visão socialmente responsável que se exige. É indispensável que esteja ao dispor de todos – independentemente da condição social ou da localização geográfica e é certo que apenas um serviço público de transportes pode garantir estes pressupostos. O investimento na ferrovia não deve, também por isso, esquecer os territórios do interior, sob pena de, uma vez mais, perderem capacidade competitiva relativamente ao litoral. Pelo contrário, deve encurtar distâncias às suas famílias e potenciar progresso às empresas que aí desenvolvem actividade.

Durante vários séculos enfrentámos diferentes desafios que, por meio de intervenções sociais, políticas e tecnológicas, permitiram transformar de alguma forma a nossa maneira de viver. Hoje, as alterações climáticas e as suas devastadoras consequências são os desafios que enfrentamos. Em matéria de transporte há que lutar pelas alternativas.

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