Deputado italiano pede que Catarina ou a Beleza de Matar Fascistas seja retirada de cena em Roma

O título da peça de Tiago Rodrigues provocou polémica na capital italiana, onde o espectáculo se apresenta uma última vez esta noite no Teatro Argentina.

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Sara Barros Leitão encarnava a protagonista na versão original desta peça Rui Gaudêncio

A passagem por Roma da peça Catarina ou a Beleza de Matar Fascistas, de Tiago Rodrigues, provocou controvérsia, com um deputado do partido nacionalista conservador Irmãos de Itália (Fratelli d’Italia), Federico Mollicone, a apelar ao presidente da Câmara de Roma, Roberto Gualteri, e ao seu conselheiro cultural, Michele Gotor, para que o espectáculo fosse retirado da programação do Teatro Argentina, a sala histórica do Teatro di Roma, onde esta noite será apresentada uma última vez.

“Considero inadequado que uma obra teatral, para lá do tema tratado, lance a questão de saber se é ou não justo matar um ser humano com base nas suas convicções ideológicas”, argumentou Mollicone, sublinhando que o clima de guerra que a invasão da Ucrânia fez regressar à Europa torna especialmente inoportuno o título da peça do encenador português e actual director do Festival de Avignon.

Deputado e membro da comissão parlamentar de Cultura do Parlamento italiano em representação do partido nacionalista e eurocéptico de direita Irmãos de Itália, com raízes históricas no partido neofascista Movimento Social Italiano, Mollicone sugeriu ainda que a escolha da peça de Tiago Rodrigues era o resultado da “funesta gestão do Teatro di Roma por [Emanuele] Bevilacqua, [Giorgio] Corsetti e [Francesca] Corona”.

O seu apelo não teve consequências práticas, mas a polémica teve algum eco na imprensa conservadora. O jornal Secolo d’Italia, fundado por um ex-dirigente do Partido Nacional Fascista de Mussolini e hoje reduzido à sua edição on line, associou o “título reprovável” da peça de Tiago Rodrigues ao “macabro slogan dos anos 70 que dizia que ‘matar um fascista não é crime’”, evocando o célebre episódio da morte do estudante Sergio Ramelli em Abril de 1975, que resultou de agressões sofridas às mãos de um grupo de jovens militantes de extrema-esquerda.

“Hoje, no ano da graça de 2022, um jovem encenador português (com menos de 50 anos) interroga-se mesmo acerca da presumida ‘beleza’, não sabemos se estética ou moral, de matar fascistas”, escreve Gloria Sabatini no Secolo d’Italia.

A peça, que aborda uma família para a qual matar fascistas se tornou numa espécie de ritual, prova de iniciação que a jovem Catarina se recusa a cumprir, teve boa recepção noutros jornais, como o Corriere della Sera, onde Federica Manzitti, que assina uma extensa entrevista ao encenador português, vê no espectáculo “um sólido equilíbrio entre drama político, encenação musical, ironia, realismo e surrealismo”.

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