Desconcerto e mais neblina

No momento em que a Ucrânia está a ser atacada pela Rússia, vejo um general português propor aos homólogos ucranianos que abdiquem de defender a Pátria e se rendam ao tirânico invasor. Será que há pátrias mais merecedoras do supremo sacrifício jurado pelos generais do que outras?


Olho em redor e vejo resistentes antifascistas portugueses a propor que os ucranianos não resistam à invasão e se subordinem aos ditames do tirano neofascista Vladimir Putin. Que atributo terá o russo para ser mais tolerável do que o tirano de Santa Comba Dão?

No momento em que a Ucrânia está a ser atacada pela Rússia, vejo um general português propor aos homólogos ucranianos que abdiquem de defender a Pátria e se rendam ao tirânico invasor. Será que há pátrias mais merecedoras do supremo sacrifício jurado pelos generais do que outras?

Vejo antifascistas aceitarem com bonomia que o mais poderoso representante actual do autoritarismo capitalista neofascista justifique a invasão bélica de um país soberano com a por ele alegada necessidade de o desnazificar. Será esse um autoritarismo de tipo suave e por isso merecedor do acolhimento generoso de antifascistas que, em outro tempo, corajosa e dignamente se ergueram contra a ditadura salazarenta?

Com a nova erupção bélica em solo europeu, tornou-se frequente ver pessoas da elite intelectual da nossa sociedade a apontar crimes de guerra cometidos pelos beligerantes russos ou pelos beligerantes ucranianos, vociferando de forma exuberante ou tombando no silêncio mais absoluto em função do lado em que se posicionam no tabuleiro conflitual. Mas será que existem exércitos angélicos, como ditam os mitos sagrados? O ser humano que enverga a farda da minha preferência é sujeito alado, expurgado de maldade? Sujeito ontologicamente outro?

Não há por aqui demasiado desconcerto? Ou será pessoal lapso de percepção?

A neblina intelectual adensa-se a cada hora que passa. Evapora-se, a cada instante, a possibilidade da simples conversa, do diálogo construtivo sobre o tema que convoca a atenção de todos nós. Acumulam-se no horizonte próximo estranhos fenómenos, tão misteriosos quanto bizarros, em face dos quais a minha capacidade de entendimento desvanece.

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