Misericórdias ameaçam abandonar rede de cuidados continuados se comparticipação não aumentar

Os valores previstos no Plano de Recuperação e Resiliência permeitem pagar 25% do valor de uma obra, o que estas entidades consideram “inaceitável”

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paulo pimenta

As misericórdias de Portugal admitem abandonar a rede de cuidados continuados pública se o Governo não aumentar o valor pago por cada utente, disse este sábado à Lusa o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos.

“As misericórdias que têm unidades de cuidados continuados, nomeadamente a tipologia de longa duração, vão levar às respectivas mesas uma decisão de denunciar os acordos”, adiantou Manuel Lemos, após uma reunião realizada este sábado em Fátima. “Queremos participar na rede, estar na rede de coração aberto, reconhecemos a importância para as pessoas e para o Estado, mas não podemos ser só nós a aguentar o prejuízo. É adiar a morte das misericórdias.”

Manuel Lemos adiantou que já enviou uma carta dirigida às ministras da Saúde e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social “chamando a atenção para o problema”. “As misericórdias estão muito decididas a sair da rede no caso de não haver um aumento. O Governo tem dito que está à espera da constituição de um grupo de trabalho, mas já não há tempo. Tem primeiro de haver um aumento e depois sim, haver um grupo de trabalho, porque há coisas, mesmo no funcionamento da rede, que podemos contribuir”, disse ainda.

O presidente da UMP garantiu que não estão “contra ninguém”, mas que não podem continuar a “prestar um serviço se não pagarem o valor justo”. Há 15 dias, num conselho nacional, as misericórdias já tinham dito que não aguentavam se não houvesse aumentos do preço da rede nacional de cuidados continuados e que “se o Estado não fizesse negociações o caminho seria denunciar os acordos em vigor”, revelou.

No dia 30, acrescentou Manuel Lemos, “saiu uma portaria do Ministério da Saúde que regulamenta os termos em que se pode concorrer ao PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para novas unidades de cuidados continuados e essa portaria irritou sobremaneira as misericórdias”. Segundo o dirigente, os valores apresentados estão desfasados com o mercado da construção civil.

“Os valores do PRR (permitem) pagar 25% do valor de uma obra, o que é inaceitável até porque estamos perante uma rede pública”, afirmou. “Quem coloca os doentes é o Estado, quem estabelece as condições de recurso é o Estado, quem dá as altas é o Estado”. Sendo uma rede na qual “o sector social colabora bom grado”, a responsabilidade é do Estado”, sublinhou. “Uma coisa é o Estado pagar 75% do valor da obra outra coisa é 25%.”

Há outra condição que lhe parece “completamente inaceitável”. “Quem fosse buscar esses 25% comprometia-se a, durante 20 anos, ter aquele equipamento afecto à rede, mesmo que o Estado não mexesse nos valores. É uma condição absolutamente leonina”, considerou Manuel Lemos, ao referir que os contratos são actualmente renováveis de três em três anos. Segundo o presidente da UMP, “as misericórdias ficaram muito zangadas com isso”, considerando mesmo que representa"uma deslealdade muito grande”. “Decidiram que ninguém concorre ao PRR nessas condições”.

Na reunião deste sábado, foi também aprovada uma moção de apoio ao povo ucraniano. “A União criou uma plataforma e as misericórdias inscrevem o número de pessoas que podem acolher”, explicou.

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