Novos relatos de atrocidades surgem dos escombros de Irpin

Recuperada pelas tropas ucranianas há uma semana, em Irpin fala-se em centenas de civis mortos e sobreviventes relatam pilhagens e violações. Rússia acusa a Ucrânia de encenar um novo massacre.

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EPA/OLEG PETRASYUK

Situada mesmo às portas de Kiev e junto a Bucha, a cidade de Irpin foi dada como recuperada pelas tropas ucranianas no fim de Março e desde então têm decorrido trabalhos de limpeza e investigação. A meio desta semana, o autarca local anunciou que 20% das ruas estavam limpas dos destroços provocados durante os combates.

Alexander Markushin afirmou igualmente, numa comissão parlamentar citada pelo jornal online Ukrainska Pravda, que os residentes lhe contaram “que os ocupantes começaram a dividir famílias, levando os homens e deixando mulheres e crianças”. Alguns dos homens, “os que não gostavam deles [russos]” e “os que não se quiseram render”, “foram mortos”, denunciou o autarca, acrescentando que os invasores “mataram pessoas e depois passaram com tanques por cima dos corpos”, que tiveram de ser “retirados com pás”.

A estimativa de Markushin é que tenham sido mortos entre 200 a 300 civis durante o período da ocupação russa. Imagens divulgadas esta semana pelo canal alemão Deutsche Welle mostravam corpos humanos espalhados pelas ruas e grande destruição de prédios e infra-estruturas. Entrevistados pela cadeia britânica ITV, alguns sobreviventes relataram “humilhações e espancamentos” às mãos dos soldados russos. “Eles dispararam sobre civis, dispararam sobre ambulâncias”, contou uma mulher. “Nós vimos, nós vimos”, assegurou.

Konstantin Gudauskas, membro de uma equipa de emergência local, contou à mesma televisão que prestou auxílio a uma rapariga de 15 anos que terá sido violada por soldados russos. “Eles filmaram tudo com um telemóvel. Nunca esquecerei esta história”, declarou, em lágrimas.

Na quinta-feira, o sub-secretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, esteve em Bucha e em Irpin. “Esta desumanidade é intolerável. Não há dúvida nenhuma de que quanto mais depressa alcançarmos um cessar-fogo humanitário, melhor será para o povo da Ucrânia e para a população mundial”, comentou depois da visita.

Já este sábado, o Ministério da Defesa russo acusou os ucranianos de estarem a preparar uma encenação em Irpin, semelhante à que o Kremlin diz ter acontecido em Bucha. Igor Konashenkov, porta-voz do ministério, disse que os serviços de segurança da Ucrânia se preparam para ir recolher à morgue os cadáveres “de residentes mortos em ataques ucranianos” para os apresentar “como prova irrefutável” perante “os meios de comunicação ocidental” dos alegados crimes de guerra russos.

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