Estamos a ver um planeta gigante nascer – nove vezes maior que Júpiter

Cientistas descrevem a observação deste planeta como um gigante gasoso ainda “no útero”. O AB Aurigae b é mais do que gigante e traz novos desafios à ciência da formação de planetas.

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Ilustração artística do recém-identificado AB Aurigae b – o planeta com uma massa nove vezes superior a Júpiter NASA, ESA, Joseph Olmsted (STScI)

Estamos a ver um planeta gigante a nascer. E não é só um planeta gigante. O AB Aurigae b é um gigante gasoso com cerca de nove vezes mais massa que Júpiter – e que foi observado por uma equipa de cientistas numa fase muito precoce da sua formação.

Através do telescópio Subaru, localizado no Havai, e do telescópio espacial Hubble, os investigadores detectaram este gigante gasoso com uma particularidade: a sua órbita está (estranhamente) longe da sua estrela. Thayne Currie, astrofísico responsável pelo artigo publicado na Nature Astronomy, sugere que este é o ponto de formação de um gigante gasoso mais precoce que observámos. “Nós pensamos que ainda está bastante cedo no seu processo de nascimento”, acrescenta.

Dos cerca de 5000 planetas identificados fora do nosso sistema solar (chamados de exoplanetas), este é um dos maiores. O AB Aurigae b tem cerca de nove vezes mais massa que Júpiter – e Júpiter já tem mais do dobro da massa de todos os outros planetas do sistema solar juntos.

Praticamente todos os exoplanetas identificados até ao momento têm órbitas em torno da sua estrela que não ultrapassa a distância máxima entre o nosso sol e Neptuno. Este, porém, orbita a uma distância três vezes superior a esta e 93 vezes superior à distância entre a Terra e o sol.

“Mesmo considerando que a estrela é muito mais massiva e com discos maiores - mas três vezes mais é um valor enorme”, explica Susana Barros, especialista em astronomia do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. A estrela deste novo planeta chama-se AB Aurigae está a 508 anos-luz da terra - e é quase 60 vezes mais brilhante e 2 vezes mais massiva que o nosso sol.

Como é que se forma um planeta gigante?

Este novo planeta identificado — e recém-formado — traz novos elementos para o conhecimento sobre a formação de planetas.

A história da formação de um planeta é relativamente simples: os aglomerados de poeira que caem da formação de uma estrela tornam-se rochas, estas rochas tornam-se rochas ainda maiores e unem-se – para depois se expandir. Estes são os tijolos que constroem os planetas e que, quando estão longe o suficiente da estrela para que a água possa congelar e as moléculas de gás sejam atraídas, deram origem a gigantes gasosos como Júpiter, Saturno, Úrano ou Neptuno.

Neste caso, não parece ter sido bem assim. Neste caso, o AB Aurigae b não se sujeita às mesmas regras. “Há algum tempo que existem duas teorias de formação de planetas. Uma é esta, que pensam ter acontecido neste planeta, o colapso gravitacional e que é o mesmo que conduz à formação das estrelas”, explica Susana Barros, investigadora da Universidade do Porto. “Esta é a primeira indicação de que existe colapso gravitacional na formação de planetas”.

O investigador principal do estudo, Thayne Currie ainda acrescenta: “Há mais do que uma maneira de cozinhar um ovo. E aparentemente há mais do que uma maneira de formar um planeta semelhante a Júpiter”.

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