Ex-Presidente do Burkina Faso condenado a prisão perpétua pelo assassínio de Thomas Sankara

Blaise Compaoré foi considerado culpado da morte de Sankara em 1987, um revolucionário conhecido por alguns como “Che Guevara africano” que lutou contra o colonialismo. Foi brutalmente assassinado em 1987 num golpe de Estado que permitiu a Compaoré chegar ao poder.

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Admiradores do Presidente assassinado festejaram no memorial dedicado a Sankara em Ouagadougou Reuters/ANNE MIMAULT

Um tribunal militar do Burkina Faso condenou esta quarta-feira o antigo Presidente Blaise Compaoré a uma pena de prisão perpétua pelo seu papel activo no assassínio do líder revolucionário e símbolo do pan-africanismo Thomas Sankara, em 1987, durante o golpe de Estado em que chegou ao poder.

O julgamento durou mais de seis meses e o tão aguardado veredicto foi recebido com uma salva de palmas pelos presentes na sala, de acordo com a BBC. Compaoré, exilado na Costa do Marfim, por isso, julgado à revelia, foi considerado culpado de “cumplicidade” na morte de Sankara. O seu antigo chefe de segurança, Hyanncinte Kafando, e o seu antigo chefe de gabinete, Gilbert Diendéré, foram também condenados a prisão perpétua.

Sobre Compaoré e Kafando pesam mandados de detenção, uma vez que se encontram fora do país. Ambos negaram qualquer responsabilidade na morte de Sankara e os advogados do ex-chefe de Estado lembram até que ele goza de imunidade e não poderia ser julgado pelo crime.

O tribunal militar condenou ainda outros oito réus neste caso. As penas variam entre os três e os 20 anos de prisão, segundo o portal de notícias do Burkina Faso Burkina 24. Destes, Idrissa Sawadogo e Nabonssouindé Ouedraogo tiveram as penas mais pesadas — 20 anos para cada um.

A Justiça Militar reabriu, em Fevereiro de 2020, a investigação sobre o assassinato de Sankara com base numa série de documentos secretos franceses desclassificados, relacionados com o morte do então Presidente, revolucionário marxista, que liderou o país entre 1983 e 1987.

Sankara foi morto junto com outros 12 oficiais depois do golpe de Estado no qual foi capturado, torturado, desmembrado e sepultado numa vala sem identificação. Compaoré sucedeu-lhe no poder, onde permaneceu até 2014, ano em que fugiu do país devido aos enormes protestos contra a sua intensão de modificar a Constituição para concorrer à reeleição.

Ao chegar ao poder, Sankara mudou o nome da então colónia francesa do Alto Volta para Burkina Faso, nome que significa “Terra do Povo Honesto”. Cortou no seu próprio salário e no dos altos funcionários públicos e vendeu uma série de carros de luxo usados pelos membros do Governo. Durante os seus quatro anos no poder, promoveu o pan-africanismo, a auto-suficiência, a independência real da antiga potência colonial francesa e a igualdade de género, proibindo a circuncisão feminina e a poligamia.

Embora a França sempre tenha negado qualquer envolvimento no golpe, muitos cidadãos do Burkina Faso ainda acreditam que o Governo francês beneficiou com o assassinato do líder pan-africano, cuja figura continuou a ser muito respeitada no país e no continente, pela sua luta contra o colonialismo.

O historiador Amzat Boukari-Yabara, depois da decisão oficial do julgamento, relembrou Sankara e disse à televisão pública: “A sua originalidade foi defender o princípio da emancipação popular e não a emancipação dos Estados. Ele convocou o povo africano a unir forças em torno das lutas regionais, como combater a desertificação e em torno dos desafios continentais, como acabar com a escravidão.”

“Em questões como a maneira de governar, os direitos das mulheres, o combate ao casamento forçado e a mutilação genital feminina, clima e cultura, ele foi um pioneiro”, acrescentou. “O seu assassínio marcou claramente o fim do pan-africanismo revolucionário”, referiu, justificando que era alguém muito à frente do seu tempo pelas preocupações que promovia.

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