Arranque da rede social de Trump marcado por demissões e problemas técnicos

Criada para ser a resposta do ex-Presidente dos Estados Unidos ao Twitter, a Truth Social tarda em impor-se como principal agregador da direita norte-americana. Um mês depois do lançamento, centenas de milhares de potenciais utilizadores continuam numa lista de espera, e o número de downloads diários caiu a pique.

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O ex-Presidente dos EUA não partilha uma mensagem na sua nova rede social há mais de um mês Reuters/DADO RUVIC

A nova rede social que tem Donald Trump como cabeça-de-cartaz, e que foi lançada para ser o ponto de encontro de milhões de eleitores e apoiantes do ex-Presidente dos Estados Unidos, falhou uma segunda data limite para começar a funcionar em pleno.

Depois de um arranque, a 21 de Fevereiro, marcado por problemas técnicos que deveriam ter sido resolvidos até ao final de Março, centenas de milhares de potenciais utilizadores continuam impedidos de entrar nos respectivos perfis na Truth Social, e o número de vezes que a aplicação foi instalada, por dia, caiu a pique nas últimas semanas.

Segundo a empresa de análise de tráfego Sensor Tower, a aplicação da Truth Social foi instalada 1,2 milhões de vezes desde finais de Fevereiro, um valor considerado baixo para uma rede social que foi apresentada como potencial rival do Twitter.

“Houve uma queda de 93% desde a semana do lançamento, quando a aplicação foi instalada 872 mil vezes, para cerca de 60 mil na semana passada”, disse Stephanie Chan, do Sensor Tower, ao site de entretenimento The Wrap.

Ainda assim, os números modestos não significam que a Truth Social está condenada ao fracasso — para além de estar disponível apenas nos EUA, a aplicação só funciona, por enquanto, nos smartphones da Apple, o que deixa de fora uma gigantesca fatia de mercado de utilizadores do sistema operativo Android.

Sob investigação

O início conturbado já teve consequências para a empresa que ajudou a financiar a operação, a Digital World Acquisitions Corp. (DWAC) — e também para investidores particulares próximos de Trump, como a congressista republicana Marjorie Taylor Greene.

Na semana passada, a agência Bloomberg noticiou que o valor da DWAC caiu 31% desde o lançamento da Truth Social, depois de uma subida de 10% em finais de Fevereiro.

A empresa é também alvo de uma investigação do regulador dos mercados financeiros dos EUA, centrada na sua fusão, em 2021, com o Trump Media & Technology Group — a empresa criada por Trump, também em 2021, para lançar a Truth Social e outras operações na área dos media.

A DWAC é uma empresa cotada em bolsa do tipo “cheques em branco”, criada especificamente para comprar ou para se fundir com empresas privadas, que beneficiam, dessa forma, de uma entrada em bolsa mais rápida e menos arriscada.

Segundo a DWAC, a fusão permitiu angariar 1,2 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) em investimento privado para a Truth Social e para outros planos de Trump na área dos media. Mas ainda não é certo que a empresa venha a ter acesso ao valor angariado — tudo dependerá da investigação do regulador norte-americano, cujo resultado não é esperado para breve.

Os problemas da Truth Social agravaram-se ainda mais esta segunda-feira, depois de a agência Reuters ter noticiado que dois dos mais importantes responsáveis técnicos da nova rede social apresentaram a demissão: o chefe da área tecnológica, Josh Adams, e o líder de desenvolvimento do produto, Billy Boozer.

A Reuters não conseguiu confirmar se as demissões estão relacionadas com os falhanços no arranque da rede social, mas avança que a empresa teve dificuldades em contratar funcionários de topo. Segundo a agência, pelo menos um candidato recusou uma proposta por não admitir trabalhar numa empresa ligada a Trump, e outros temeram vir a ser alvos de ataques informáticos.

Queixas de censura

Criada na sequência da expulsão de Trump do Twitter, após a invasão do Capitólio dos EUA, a 6 de Janeiro de 2021, a Truth Social apresentou-se como uma alternativa para quem rejeita “a cultura de cancelamento” e a “censura”, que uma grande parte da direita conservadora norte-americana considera existir nas redes sociais mais populares.

Mas, como qualquer outra empresa nos EUA, a Truth Social tem regras de utilização muito apertadas, incluindo uma regra que proíbe o “uso excessivo de letras maiúsculas — uma prática corrente de Trump enquanto utilizador do Twitter.

A aparente dessintonia entre a promoção da Truth Social como um espaço de total liberdade, e a realidade da experiência dos utilizadores, já provocou dissabores a alguns utilizadores e até a uma figura próxima de Trump.

Na noite de sábado, uma mensagem publicada por Roger Stone — um velho amigo e colaborador de Trump —, com alusões a uma “crescente ameaça do islão radical” e a imagem de um crachá da candidatura presidencial de Trump em 2000, foi alvo dos moderadores da Truth Social, que a esconderam por trás de um aviso de “conteúdo sensível”. Questionado pelo site Daily Beast, Stone disse que tudo não passou de “um problema técnico”.

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