Irão liberta Nazanin Zaghari-Ratcliffe e Anoosheh Ashoori

Reino Unido diz ter pago “dívida histórica” relativa a uma compra de tanques pelo regime do Xá nos anos 1970 e que nunca foram entregues após a queda do regime.

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Nazanin Zaghari-Ratcliffe em 2021, num curto período entre duas detenções Reuters/WANA NEWS AGENCY

Dois britânicos de origem iraniana, Nazanin Zaghari-Ratcliffe e Anoosheh Ashoori, foram libertados esta quarta-feira após anos presos no Irão e estavam a caminho do Reino Unido. Durante a tarde de ontem os dois chegaram a Omã, de onde iriam partir para uma base aérea em Oxfordshire, onde deveriam aterrar um pouco depois da meia-noite, segundo o diário britânico The Guardian. Zaghari-Ratcliffe estava detida desde 2016 e Ashoori desde 2017. Um terceiro britânico de origem iraniana, Morad Tahbaz, foi libertado, mas mantinha-se, de momento, no Irão.

O Governo britânico disse que pagou uma “dívida histórica” ao Irão, de uma venda de armas ao Xá Reza Pahlavi em meados dos anos 1970, e que estava a ser vista como a chave para o destino dos britânicos detidos. O Irão disse ter recebido o pagamento, mas em declarações à agência semi-oficial ISNA, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian, negou qualquer relação com a libertação dos detidos.

Nazanin Zaghari-Ratcliffe, que trabalha para a Fundação Thomson Reuters, um ramo independente da agência noticiosa dedicado a questões humanitárias, foi detida no aeroporto de Teerão em Abril de 2016 quando regressava do país, onde tinha ido com a filha de 22 meses, para que os seus pais a conhecessem. Foi condenada a cinco anos de prisão depois de uma acusação de conspirar para derrubar o regime da República Islâmica, e mal foi libertada, foi de novo acusada de fazer “propaganda contra o regime”, por ter participado num protesto junto à Embaixada iraniana em Londres, em 2009, e por falar com uma jornalista da BBC no mesmo encontro.

Ashoori foi condenado a dez anos de prisão em 2019 por ter espiado para os serviços secretos israelitas e “acumulado riqueza de modo ilegítimo”. Ambos negam as acusações.

“Numa altura de turbulência no mundo, em que as notícias têm sido consistentemente desoladoras, a liberdade de Nazanin é um raio de sol e esperança”, declarou o director executivo da Fundação, Antonio Zappulla. A fundação estará à sua espera “quando ela estiver pronta”.

O marido de Zaghari-Ratcliffe, Richard Rattcliffe, que tinha chegado a fazer greve de fome em protesto pela prisão da mulher, disse que a família irá agora levar a cabo um “processo de recuperação”. “Não vamos poder ter de volta o tempo que passou, isso é um facto”, declarou, “mas vivemos no futuro e não no passado, por isso vamos viver um dia a seguir ao outro”.

“É um alívio, a ideia de que podemos voltar a ser uma família normal, que não temos de continuar a lutar, que esta longa jornada esta quase a terminar”, disse também à Reuters.

A família Ashoori agradeceu a todos que contribuíram para a sua libertação. “Há 1672 dias, os alicerces da nossa família foram abalados quando o nosso pai e marido foram detidos injustamente e levados para longe de nós.”

Uma das questões que se levantou foi como poderia ser paga a dívida de 460 milhões de euros contornando as sanções ao Irão. A ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Liz Truss, garantiu que o pagamento foi feito “em total respeito pelas sanções britânicas e internacionais e todas as obrigações legais”, estando os fundos “destinados apenas à compra de bens humanitários”.

A colunista do diário britânico The Guardian Zoe Williams sublinhava que não havia qualquer debate sobre a legitimidade da dívida – o Xá Reza Pahlavi pagara 1500 carros de combate Chieftain, mas a entrega da encomenda foi suspensa quando o governante foi deposto em 1979. O caso foi objecto de um veredicto da Câmara de Comércio Internacional que em 2001 decidiu a favor do Irão. Mas com a imposição de novas sanções ao Irão por causa do seu programa nuclear, o Reino Unido argumentava que não conseguia pagar a dívida sem violar as sanções.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, expressou o seu contentamento com as notícias. Johnson tinha, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, protagonizado um episódio problemático quando afirmou que Zaghari-Ratcliffe “só estava a fazer o seu trabalho de jornalista” o que levou a novas acusações iranianas – Johnson depois disse ter feito uma afirmação errada e que Zaghari-Ratcliffe só estava no país de férias.

Boris Johnson disse que as libertações foram “grandes sucessos para a diplomacia britânica”, e saudou os “esforços incansáveis” dos envolvidos, incluindo funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, embaixadores no Irão e ministros dos Negócios Estrangeiros.

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