Dia 6 da “caravana humanitária”: Anna chegou a Lisboa, com seis gatos em duas mãos. O filho teve de ficar em Kiev

A artista ucraniana Anna Penyak chegou nesta madrugada a Lisboa, na “caravana humanitária” que trouxe 241 refugiados para Portugal. Uma viagem “esgotante” que vai terminar em Penafiel, onde vai viver com uma portuguesa e os seus seis gatos. O filho de 28 anos ficou em Kiev, por causa da lei marcial.

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Anna Penyak Tiago Lopes

Quando Anna Penyak teve de começar a pensar em deixar Kiev, começou a planear o resgate dos seis gatos com quem vive. Era a única coisa que conseguia controlar. O filho tem 28 anos e a lei marcial prendeu-o num país em guerra, que Anna ficou muito tempo a pensar se deveria deixar.

“Não considerei nenhum plano que não envolvesse trazer os meus gatos sempre comigo”, diz a artista e designer, de 45 anos. A “decisão forçada” foi tomada na semana anterior. Da capital apanhou “um autocarro organizado por voluntários de Israel” até Lviv, a cidade mais a oeste que muitos ucranianos procuraram como primeiro refúgio, numa última tentativa de não abandonar a Ucrânia. Três dias depois, dois voluntários de uma organização de veterinários polaca ajudaram-na a atravessar a fronteira e a chegar a Varsóvia, de carro.

“Ajudaram-me com o transporte… e com as mãos. Porque eu tenho duas mãos e seis gatos. Não sou Krishna”, ri-se. “As pessoas nem sempre foram muito agradáveis para os gatos”, conta. Quem foge com animais menciona a dificuldade em encontrar transportes e alojamentos que permitam a entrada de animais, uma preocupação extra numa viagem já “esgotante”.

“Mas sou a prova viva de que é possível”, apresenta-se. Pusha, Muha, Eliza, Marta, Archie e Busy parecem calmos nas cinco transportadoras (dois deles “partilham casa, por agora”, brinca). Como “não têm todos os documentos necessários” para transporte aéreo, Anna viajou de autocarro até Portugal, numa “caravana humanitária” de voluntários civis que trouxe 241 refugiados. Irá regularizar os animais nas próximas semanas, garante.

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Tiago Lopes

Chegou na madrugada de segunda-feira a Lisboa, aonde “sonhava voltar desde 2018”. “Apaixonei-me pela cidade”, conta, no centro de acolhimento de emergência onde voluntários da Cruz Vermelha e a Protecção Civil de Lisboa recebem as pessoas que foram chegando ao longo do dia. “Era um sonho voltar, mas não nesta situação”, resume.

Já em Lisboa, com uma amiga, viu nas notícias e ouviu os amigos e família contarem-lhe que as forças russas obliteraram um bloco de apartamentos em Kiev. Uma das “mais bonitas cidades europeias parece uma cena de um filme apocalíptico”, disse o ministro da Defesa Oleksii Reznikov. Os ataques aconteceram “muito perto” do apartamento do ex-marido, conta Anna.

Por agora, vai viver em Penafiel com uma portuguesa que está “desejosa de a conhecer”, conta a amiga Veronika, bielorrussa. “Conhecemo-nos na Internet há 15 anos. É do meu grupo querido das amigas”, comenta, enquanto diz um até já à amiga.

“A prioridade são as crianças e não estava à espera de encontrar ajuda para a Anna com os seis gatos”, confessa a analista de dados em Portugal. Tem em casa um “quadro magnífico da cidade de Lisboa”, pintado pela artista de Kiev.

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