Cientistas propõem que o Tyrannosaurus seja dividido em três espécies e lançam uma polémica

Para uma equipa de três cientistas, além da T. rex, o género Tyrannosaurus deve ter ainda mais duas espécies: a T. regina e a T. imperator. Paleontólogos que não fizeram parte do estudo discordam.

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Ilustração de um Tyrannosaurus imperator a atacar um Triceratops horridus Gregory S. Paul

Um grupo de investigadores propõe que o género Tyrannosaurus seja dividido em três espécies e não em apenas uma, que é a T. rex. Esta sugestão baseia-se em variações no fémur e nos dentes entre dezenas de fósseis.

O T. rex – que significa “rei lagarto tirano” – tem sido a única espécie do género Tyrannosaurus a ser reconhecida desde que este dinossauro foi inicialmente descrito em 1905. Um género é um grupo mais alargado de organismos relacionados do que uma espécie.

Uma equipa de três investigadores liderada pelo paleontólogo Gregory Paul revelou que variações identificadas ao longo de um estudo a mais de 30 fósseis de Tyrannosaurus justificam o reconhecimento de mais duas espécies: a T. imperator, que significa “imperador lagarto tirano”; e a T. regina, “rainha lagarta tirana”.

“Depois de cerca de um século a colocarmos todos os exemplares numa única espécie sem que o assunto tenha sido cuidadosamente analisado, a primeira e única análise constata que variações nos [fósseis de] Tyrannosaurus vão além dos critérios [até agora usados] para os dinossauros”, nota Gregory Paul, que vive em Baltimore, nos Estados Unidos. Como assim? O paleontólogo assinala que a análise indica que a variação observada mostra que a especiação darwiniana de que uma espécie resulta em duas espécies ocorreu já antes do final da extinção dos dinossauros.

Os Tyrannosaurus andaram pelo Oeste da América do Norte durante o período Cretácico no crepúsculo da idade dos dinossauros antes de um asteróide ter embatido na península do Iucatão (no México) há 66 milhões de anos, o que levou à extinção dos dinossauros.

A equipa de Gregory Paul indica que, entre os fósseis analisados, há diferenças ao nível do fémur – uns eram maiores e outros mais leves –, bem como diferenças no número de pequenos dentes na extremidade do maxilar inferior.

“Preocupa-nos que isto possa ser controverso devido ao estatuto carismático do T. rex, mas de outra forma o estudo não teria tanta atenção”, considera Gregory Paul. O estudo foi publicado na revista científica Evolutionary Biology.

E Gregory Paul estava certo quanto à controvérsia. Paleontólogos que não fizeram parte do estudo discordam das conclusões. “Ultimamente, para mim, a variação tem sido algo insignificante e não é indicadora da separação biológica de espécies distintas que possam ser definidas com base em diferenças claras, explícitas e consistentes”, considera, por sua vez, Steve Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo e que não fez parte do estudo.

“É difícil definir uma espécie, mesmo nos animais actuais, e não há provas genéticas nesses fósseis que possam ser analisadas para se saber se houve mesmo uma verdadeira separação de populações. Até que veja provas mais fortes, para mim, estes [fósseis] ainda pertencem todos [à espécie] T. rex e é assim que lhes irei continuar a chamar”, avisa Steve Brusatte.

Gregory Paul não descarta que diferenças entre os indivíduos ou entre machos e fêmeas possam estar em jogo, mas acha que é improvável que seja essa a razão das variações.

Sue não é T. rex, mas sim T. imperator?

Os Tyrannosaurus tinham uma grande cabeça e uma mordida extremamente forte. Andavam com duas pernas e tinham braços franzinos. Provavelmente, o maior Tyrannosaurus que se conhece é um espécime chamado “Sue no Museu Field em Chicago. Esse dinossauro tem 12,3 metros de comprimento e estima-se que pesasse nove toneladas. O novo estudo concluiu que Sue não é um T.rex, mas sim um T. imperator.

A escala das diferenças entre as três espécies de Tyrannosaurus propostas, conta Gregory Paul, é semelhante às diferenças entre um leão (de nome científico Panthera leo) e um tigre (Panthera tigris). Os leões e os tigres são membros do mesmo género – a Panthera –, mas têm diferenças suficientes para serem reconhecidas como espécies separadas.

Thomas Carr, paleontólogo da Faculdade Carthage no Wisconsin (EUA), revelou um estudo em 2020 em que indicava que não tinha encontrado provas de múltiplas espécies de Tyrannosaurus. Estes resultados diferem dos do actual estudo. “Talvez o mais negativo [no estudo agora publicado] é o facto de os autores não terem sido capazes de atribuir muitos dos crânios em excelente estado de conservação a nenhuma das três espécies”, argumenta Thomas Carr. “Se essas espécies são válidas, então mais de duas características devem ser identificadoras dessas espécies: quase todos os detalhes – sobretudo na cabeça – devem ser diferentes.”

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