BCP vê lucro cair 24% em 2021, penalizado pela Polónia e rescisões

Os custos com a carteira de créditos em francos suíços concedidos na Polónia e com o processo de reestruturação pesaram sobre as contas do BCP, que alcançou lucros de 138 milhões em 2021.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O BCP fechou o exercício de 2021 com um resultado líquido de 138,1 milhões de euros, valor que representa uma quebra de cerca de 24% face aos lucros de 183 milhões que tinham sido registados no ano anterior. A penalizar as contas do banco estiveram encargos superiores a 530 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços concedidos na Polónia, bem como custos de mais de 80 milhões relacionados com o processo de reestruturação.

Os resultados foram divulgados esta segunda-feira, em comunicado enviado pelo banco à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

“O resultado líquido do grupo foi fortemente penalizado pelo aumento dos custos associados à carteira de créditos hipotecários em moeda estrangeira reconhecidos pelo Bank Millennium na Polónia, cujo impacto, em termos consolidados, se cifrou em 266,9 milhões de euros em 2021, mais do que triplicando os 75,6 milhões de euros apurados no ano anterior”, indica o BCP.

Ao todo, os custos do BCP associados à carteira de créditos hipotecários em moeda estrangeira ascenderam a 532,6 milhões de euros em 2021, um montante explicado, sobretudo, pela constituição de “provisões adicionais para fazer face ao risco legal implícito nesta carteira”. A isso, somam-se os “custos com os acordos entretanto celebrados pela subsidiária polaca com os seus clientes, que visam a conversão dos créditos para moeda local ou o seu reembolso (total ou parcial) antecipado”.

Excluindo o impacto deste processo, detalha o banco, “o resultado líquido do grupo teria apresentado um crescimento de 56,6%, de 258,6 milhões de euros em 2020 para 404,9 milhões de euros em 2021”.

A penalizar as contas do BCP esteve, ainda, a constituição de uma provisão extraordinária, no valor de 84,2 milhões de euros, destinada a fazer face aos custos com aquilo que o banco designa de “plano de ajustamento do quadro de pessoal”. No ano passado, recorde-se, o BCP implementou um plano de reestruturação que levou à saída de perto de 800 trabalhadores, entre rescisões por mútuo acordo e reformas. Em curso está, ainda, um despedimento colectivo que abrange 23 trabalhadores que não aceitaram as propostas do banco.

Negócio cresce

A compensar os custos extraordinários suportados pelo BCP esteve o crescimento da actividade bancária. No final de 2021, a carteira de crédito do banco totalizava 58,2 mil milhões de euros, valor que representa um aumento de 4,6% face ao ano anterior. O crescimento verificou-se em todos os segmentos de crédito, mas, sobretudo, na área do crédito à habitação, onde a carteira aumentou mais de 6% e passou a totalizar 28,1 mil milhões de euros.

Ainda no que diz respeito ao crédito, o BCP reduziu o rácio de NPE (non-performing exposures, indicador utilizado pelo banco para medir o crédito malparado) de 5,9% em 2020 para 4,7% no final do ano passado. “O rácio está agora abaixo daquela métrica mítica de 5%”, frisou o presidente executivo do banco, Miguel Maya, em conferência de imprensa.

Ao mesmo tempo, o fim das moratórias teve um impacto pouco significativo (nas palavras de Miguel Maya, foi mesmo “irrelevante") sobre as contas do banco. “Do total de 8,2 mil milhões de moratórias expiradas em 31 de Dezembro, 306 milhões foram alvo de reestruturação devido a dificuldades financeiras”, detalha o BCP.

Também os depósitos registaram uma evolução positiva. No final de 2021, os recursos totais de clientes ascendiam a 90,1 mil milhões de euros (dos quais 48,9 mil milhões relativos a depósitos à ordem), mais 9,5% do que no ano anterior.

O crescimento da actividade levou, ainda, a um aumento das receitas arrecadadas com comissões, que totalizaram 727,7 milhões de euros em 2021, mais 7,6% do que no ano anterior. Ao mesmo tempo, a margem financeira aumentou em quase 4% e fixou-se em 1588 milhões de euros no conjunto do ano passado, enquanto o produto bancário cresceu mais de 3% e totalizou 2334 milhões de euros.

Quanto à liquidez e solvabilidade, o BCP fechou 2021 com um rácio de common equity tier 1 de 11,7%, abaixo da taxa de 12,2% registada no final do ano anterior. Esta redução é justificada com “os efeitos adversos relacionados com a operação na Polónia e com a subida das taxas de juro das dívidas soberanas”, que “mais do que anularam os efeitos positivos da geração orgânica de capital e vendas de subsidiárias registadas em 2021”.

803 trabalhadores saíram em 2021

O ano de 2021 fica marcado, também, pelo processo de reestruturação do banco, entretanto concluído. Ao todo, detalhou Miguel Maya, saíram no âmbito deste processo de reestruturação 803 trabalhadores, estando ainda a decorrer um processo de despedimento colectivo que abrange outras 21 pessoas, que não aceitaram as condições propostas pelo banco para sair.

Ao mesmo tempo, no ano passado, foram contratados 74 trabalhadores, sobretudo nas áreas ligadas à tecnologia e ao digital. Feitas as contas, o BCP fechou 2021 com 6289 trabalhadores em Portugal, uma redução da força de trabalho de cerca de 10% em relação ao ano anterior. Já na actividade internacional, o banco português conta com 9579 trabalhadores (a larga maioria dos quais na Polónia), menos 7% do que em 2020.

Encerrado o processo de reestruturação, o presidente do BCP confirma que a administração do banco está a negociar com os sindicatos a actualização das tabelas salariais, mas não adiantou mais detalhes sobre esta questão.

Banco volta a pagar dividendos

Na conferência de imprensa que decorreu esta segunda-feira, a administração do BCP deu ainda conta de que pretende voltar a distribuir dividendos aos accionistas, uma prática que foi interrompida durante a pandemia com o objectivo de preservar capital.

“É intenção da comissão executiva propor à assembleia-geral de accionistas a retoma da distribuição de dividendos, tendo em consideração a necessidade de uma gestão muito prudente do capital”, disse Miguel Maya. “Entendemos que seria bom retomar o pagamento de dividendos relativos a 2021, mas vamos fazê-lo de forma muito moderada, até porque actual situação não ajuda”, acrescentou Nuno Amado, presidente do conselho de administração do BCP, detalhando a proposta de distribuição de dividendos será apresentada aos accionistas em Abril, antes da assembleia-geral, que decorrerá em Maio.

O banco não revela, para já, qual o montante que pretende distribuir, indicando apenas que será um “valor moderado”.

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