UE privada de receitas de 80 mil milhões de euros com exclusão da Rússia do sistema SWIFT

A aplicação da “arma nuclear financeira” para travar Putin implica o corte total do comércio entre a UE e a Rússia. Exportadores europeus arriscam ficar sem pagamentos, unidades industriais podem paralisar por falta de energia e consumidores serão confrontados com nova subida dos preços.

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A exclusão da Rússia do SWIFT está a ser discutida pelos líderes da UE Chris Helgren/Reuters

Com a exclusão da Rússia do sistema internacional para o processamento de transferências monetárias SWIFT, a União Europeia ficaria imediatamente privada de receitas na ordem dos 80 mil milhões de euros da exportação dos seus produtos para aquele país, que é o quinto maior parceiro comercial do bloco. As vendas para a Rússia representam quase 5% do total do comércio da UE.

No caso de Portugal, a medida teria um forte impacto nos negócios dos produtores de carne de porco, leite ou vinho verde — estes últimos têm na Rússia 20% da sua quota de mercado. Na Alemanha, Itália ou Países Baixos, a indústria farmacêutica seria a mais afectada. Mas o maior “rombo” aconteceria na balança comercial de países como a Lituânia, a Finlândia ou a Bulgária ou a Letónia, que têm a Rússia como o destino principal das suas exportações.

Além de perder as receitas das exportações, com o afastamento da Rússia do sistema de pagamentos internacionais a UE também deixaria de ter acesso às mais importantes importações daquele país: o carvão, o crude e o gás natural, responsáveis pela alimentação das centrais de energia de vários Estados-membros, alguns dos quais dependem em mais de 50% do abastecimento russo.

O país de Vladimir Putin é a origem de 26% das importações de petróleo da UE, e de 40% das importações de gás natural (dados até ao primeiro semestre de 2020). O impacto do fim desse abastecimento teria efeitos devastadores sobre a economia europeia, em pleno processo de retoma de actividade após a crise provocada pela pandemia: rupturas na produção e distribuição de electricidade, paralisação das unidades industriais, escassez de combustíveis, e subida em flecha dos preços aos consumidores.

É a consciência dos prejuízos brutais que essa decisão acarreta que explica a renitência dos líderes europeus em carregar no botão para accionar a “arma nuclear financeira”, como descreveu o ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire.

Como explicava uma fonte europeia, a questão que se coloca à UE, neste momento, é até que ponto quer continuar a poder transaccionar com a Rússia. “As discussões sobre a exclusão da Rússia do sistema SWIFT prosseguem ao mais alto nível. O que está a ser analisado é como é que isso poderia ser feito, uma vez que representaria o fim de todas as trocas, do dia para a noite”, observou.

Confrontados com os apelos do Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, e também a pressão da opinião pública, que este sábado saiu à rua em dezenas de cidades europeias a reclamar a “mãe de todas as sanções”, os dirigentes europeus esforçaram-se por explicar as consequências para os seus próprios países — um efeito boomerang em defesa da sua prudência.

E não se referiram apenas às consequências económicas nefastas dessa medida. Como lembrou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no final da reunião do Conselho da UE onde foi aprovado o segundo pacote de sanções à Rússia por causa da guerra na Ucrânia, “já aconteceu mais do que uma vez que a exclusão de um país terceiro do sistema SWIFT impediu o financiamento de ONG humanitárias nesse país”.

A estratégia europeia tem sido, até agora, actuar sobre os bancos russos e as entidades estatais responsáveis pelo financiamento da economia, cortando o acesso do país aos mercados de capitais e interditando a emissão de dívida pública russa, a compra de obrigações do tesouro russo ou as transacções com o Banco Central da Rússia por parte de instituições europeias.

As medidas de congelamento dos activos dos bancos russos já têm um efeito muito prejudicial em termos da capacidade dos agentes económicos satisfazerem pagamentos, mas não inviabilizam por completo as trocas comerciais com a UE.

Mas como repetiram este sábado vários líderes europeus, caso do chefe do Governo italiano, Mario Draghi, ou do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, há unidade total e sintonia entre os 27 para a adopção de sanções mais duras contra a Rússia, incluindo a retirada do sistema SWIFT, se o Presidente Vladimir Putin intensificar as acções de guerra na Ucrânia.

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