Conflito entre Mário Ferreira e Ana Gomes resulta em novo julgamento no Porto

Dando continuação ao conflito entre ambos, a ex-candidata presidencial Ana Gomes é agora acusada de crimes de difamação pelo empresário Mário Ferreira e irá a tribunal na próxima semana.

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Ana Gomes é acusada de difamação pelo empresário Mário Ferreira Daniel Rocha

A diplomata e antiga eurodeputada Ana Gomes enfrenta acusações de difamação agravada ao empresário Mário Ferreira, na sequência de um longo contencioso entre ambos, estando o julgamento já agendado para sexta-feira num tribunal do Porto.

Em causa estão considerações sobre o empresário do grupo Mystic Invest/Douro Azul e da TVI, produzidas pela antiga embaixadora na estação de televisão SIC Noticias e na rede social Twitter, na sequência de investigações e buscas relacionadas com a subconcessão do Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e de negócios de navios.

Reagindo a um tweet do primeiro-ministro, António Costa, após ter participado, no dia 7 de Abril de 2019, no baptismo do MS World Explorer (paquete construído nos ENVC por iniciativa do grupo Mystic Invest), a também ex-candidata presidencial Ana Gomes lamentou que o chefe de Governo tratasse como grande empresário um “notório escroque/criminoso fiscal”, além de classificar a venda do “ferryboat” Atlântida como “uma vigarice”.

Antes, em 3 de Março de 2019, num comentário na SIC Notícias, Ana Gomes referiu-se ao negócio do Atlântida como “um esquema completamente corrupto”.

“Aliás”, acrescentou, “eu depois demonstrei inclusivamente que havia crimes fiscais e envolvido nisso está quem beneficiou do navio Atlântida, o senhor Mário Ferreira, da Douro Azul”.

De acordo com peças processuais a que a agência Lusa teve acesso, as afirmações levaram o Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto, por despacho de 29 de Setembro de 2020, a acompanhar “nos seus precisos termos” uma acusação particular deduzida por Mário Ferreira, que pede a condenação de Ana Gomes por dois crimes de difamação agravada.

Para o queixoso e para o Ministério Público, os juízos de valor produzidos pela antiga eurodeputada “ofenderam de forma manifesta a honra e o bom nome” de Mário Ferreira, “bem como a sua imagem e consideração”.

Acresce, segundo a acusação particular, que, “volvidos mais de quatro anos da realização da diligência de investigação, nem o assistente nem qualquer das [suas] sociedades foram constituídos arguidos”.

Vários outros episódios têm marcado o conflito entre ambos, um dos quais deu origem a uma queixa que empresas do universo de Mário Ferreira (Douro Azul, Mystic Cruises e Pluris Investments) apresentaram no Ministério Público do Peso da Régua contra a ex-diplomata por alegada ofensa a organismo, serviço ou pessoa colectiva.

Em causa estão, aqui, declarações proferidas em Abril de 2016 por Ana Gomes, em reacção a um comunicado da Procuradoria-Geral da República a anunciar buscas e diligências no quadro da designada “Operação Atlantis”, relacionadas com a subconcessão dos ENVC e a venda do Atlântida ao grupo Douro Azul.

Na ocasião, Ana Gomes declarou ao Diário de Notícias que a investigação era “um sinal de que algo está a mexer num caso de flagrante corrupção”, envolvendo a venda “a patacos” do “ferryboat” Atlântida ao grupo Douro Azul, o qual, segundo a eurodeputada, teria “muito que contar” às autoridades.

O grupo acusou então a eurodeputada de fazer “insinuações e acusações graves, visando atingir a credibilidade e prestígio” das empresas envolvidas, e de “insinuar uma qualquer relação entre a subconcessão dos terrenos e infra-estruturas dos ENVC com a venda do navio Atlântida ao grupo Douro Azul, sabendo que não correspondia à verdade”.

A queixa foi arquivada, mas foi alvo de recurso para o Tribunal da Relação de Guimarães.

“Ela [Ana Gomes] connosco não brinca. (...) Vai sair-lhe cara esta brincadeira até ela perceber que tem de ter tento na língua”, avisou o empresário numa entrevista à Rádio Renascença.

E Ana Gomes reagiu, na sua conta de Twitter, nestes termos: “Mário Ferreira recorreu. E entretanto pôs-me outro processo, no Porto. (...) Lá estive e lá estarei, quando for convocada. Já ele não se dá ao trabalho de pôr o pé no tribunal, tem muito com que pagar a advogados”.

Segundo o portal dos tribunais, o julgamento tem uma primeira sessão agendada para as 10h00 de sexta-feira no Juiz 8 do Tribunal do Bolhão, no Porto, e continuação na terça-feira, dia 22, à mesma hora.

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