Pedro Caldeira Cabral encerra Festival CriaSons com duas estreias absolutas

A 3.ª edição do Festival CriaSons termina esta sexta-feira no São Carlos, em Lisboa, com um concerto de Pedro Caldeira Cabral mais quinteto de cordas. Ele explica como será.

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Pedro Caldeira Cabral GRAÇA MORAIS

Iniciada em Novembro de 2020 e arrastada no tempo devido à pandemia, a 3.ª edição do Festival CriaSons termina esta sexta-feira no Foyer do Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, com um concerto de Pedro Caldeira Cabral. Marcado para as 18h30 e com entrada livre, o concerto, intitulado Tempos e Modos da Cítara Portuguesa, abre e fecha com duas estreias absolutas: Variações bitemáticas, de Alejandro Erlich Oliva, para quinteto de cordas e dedicada ao Quarteto Lopes Graça, e, no final, Fantasia bicéfala, de Pedro Caldeira Cabral e Alejandro Erlich Oliva, para cítara portuguesa e quinteto de cordas.

“Fizemos a estreia em Tomar, ainda no ano passado, e por razões várias (sobretudo com o agravamento da pandemia), não se conseguiu fazer, como estava previsto, o encerramento em 2021”, diz Pedro Caldeira Cabral ao PÚBLICO. “De maneira que vamos fazer agora estes dois concertos, dia 17 em Lisboa, no São Carlos, e dia 19 em Ferreira do Zêzere.”

Num festival que, no programa desta edição, contou já com a participação de António Victorino d’Almeida, Mário Laginha, Carlos Azevedo e Tiago Derriça, com direcção artística do maestro Bryan Mckay, o alinhamento do concerto de Pedro Caldeira Cabral teve algumas alterações em relação ao que tinha sido divulgado. “Uma vez que se trata de um concerto de música de câmara, preferi substituir os solos por três peças acompanhadas com o contrabaixo. Fizemo-lo em Tomar e vamos fazer a mesma coisa no São Carlos.”

Com Pedro Caldeira Cabral (cítara portuguesa), Duncan Fox (contrabaixo) e o Quarteto Lopes-Graça (Luís Pacheco Cunha, violino; Maria José Laginha, violino; Isabel Pimentel, violeta; Catherine Strynckx, violoncelo), o concerto começa, como já foi dito, com as Variações bitemáticas, seguindo-se, em lugar das peças a solo, duas modinhas e um lundu. “Isso tem a ver com o facto de estarmos num contexto simbólico, especial, que é o Teatro de São Carlos e ainda por cima no Foyer, que era o sítio (junto com o Salão Nobre) onde se faziam essas modinhas nos intervalos das óperas. Depois segue-se Castro d’Aire, que foi uma peça que eu escrevi, há muitos anos, como música de um filme do Manuel Varela, e que agora aparece com harmonização e instrumentação do Duncan Fox.” Seguem-se, aqui já sem alterações, os temas Baile dos Caretos, Astoriana e Fantasia Verdes Anos.

“Essa Fantasia foi escrita sobre o tema Verdes anos, do Carlos Paredes, numa homenagem que eu fiz em 1995, no ano em que o Paredes completou 70 anos. Foi uma encomenda do INATEL, feita a quatro compositores, um deles o próprio António Victorino d’Almeida [que abriu esta edição do CriaSons]. O original era para orquestra e cítara portuguesa, mas eu depois fiz uma versão solística só para cítara portuguesa e contrabaixo.” E é assim que será tocada no São Carlos. O concerto fecha, como também já foi referido, com Fantasia bicéfala. “Foi composta por mim e pelo Alejandro Oliva, como corolário de uma velha colaboração que começa ainda nos anos 80, em que ele faz a orquestração de várias peças minhas que foram depois tocadas por membros do Opus Ensemble e que ficaram gravadas nos discos daquela época.” Essa colaboração trouxe ainda uma outra ideia a este concerto: “Eu tinha dedicado uma peça minha, a Astoriana, ao Alex [Alejandro Oliva] e pensei que seria interessante fazermos uma peça a dois. Sugeri os motivos, os temas, e ele organizou as várias secções, juntou mais uma parte instrumental só para cordas e basicamente trata-se de uma estrutura mais ou menos com uma forma bastante livre. De maneira que acabámos por lhe chamar Fantasia. E Bicéfala, porque foi feita por nós dois, claro.”

Para Pedro Caldeira Cabral, que se tem batido por devolver o nome de cítara portuguesa ao instrumento a que se vulgarizou chamar guitarra portuguesa (no fado e fora dele), este concerto “é mais uma tentativa, que vem já de longe, de integrar a cítara em grupos de câmara, com a cítara como instrumento solista”: “Isto começa logo em 1971, com a minha primeira apresentação no Teatro Monumental [demolido e substituído por outro edifício] com uma orquestra a tocar o Concerto em Ré Maior de Vivaldi, tendo na primeira fila o Américo Thomaz [o último Presidente da ditadura], isso é que eu nunca mais esqueci! Aquilo era de tal maneira inédito, ver aquele instrumento com uma orquestra, que não se sabia qual seria a reacção. E era uma coisa muito cerimoniosa. Mas foi muito bem aceite.”

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