Tendências da música contemporânea no Festival CriaSons

A longa carreira de Cândido Lima e a representante da nova geração Camila Menino estarão em destaque no concerto desta segunda-feira, em Lisboa. Festival prolonga-se durante todo o ano, em localidades diferentes do país.

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Cândido Lima DR

O compositor Cândido Lima (n. Viana do Castelo, 1939) será a personalidade criativa em destaque no segundo concerto do Festival CriaSons, que se realiza esta segunda-feira, às 18h00, na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, em Lisboa.

Organizado pela Musicamera Produções, um projecto surgido em 2009 por iniciativa do violinista Luís Pacheco Cunha, do contrabaixista Adriano Aguiar e do contrabaixista e compositor Alejandro Erlich Oliva, que assenta na ideia da “gestão da música pelos próprios músicos”, o festival prolonga-se durante todo o ano de 2019 através de seis programas que serão apresentados em localidades diferentes e que foram delineados por seis compositores residentes com carreiras reconhecidas: Fernando Lapa (a quem foi dedicado o primeiro concerto, em Dezembro), Eurico Carrapatoso, Alexandre Delgado, Amílcar Vasques Dias, Cândido Lima e Alejandro Erlich Oliva.

Das regras do jogo fazem parte não só a apresentação em cada programa de uma selecção das obras de cada um destes compositores, mas também de peças de outros criadores portugueses e estrangeiros dos séculos XX e XXI  que tenham sido relevantes na sua formação ou no seu percurso, bem como a estreia de uma composição escrita especialmente para o festival por cada um dos seis jovens compositores “emergentes” escolhidos através do Concurso CriaSons (2018).

Na presente edição, a nova geração encontra-se representada por Edward d'Abreu, Tiago Derriça, Miguel Jesus, Camila Menino, Samuel Pascoal e Hugo Vasco Reis.

Para o concerto desta segunda-feira, Cândido Lima optou por reunir obras e autores que são o “reflexo dos afectos e das memórias” que o “enriqueceram como pessoa e como músico ao longo da vida”, lê-se no texto de apresentação. Assim, sob o título Para Além da Música – Memórias e Afectos, será possível escutar um leque variado de estéticas e linguagens representativas da criação contemporânea das últimas décadas. O repertório é composto por sete obras, duas das quais em estreia absoluta: Cadernos de Invenções (série b) Sons para descobrir – Títulos para inventar, do próprio Cândido Lima, e Primevo, para flauta, clarinete, violoncelo e contrabaixo, da compositora emergente e trompetista Camila Menino, a mais jovem dos participantes do festival. O restante programa é constituído por obras de Iannis Xenakis (Morsima-Amorsina), Pascal Dusapin (Canto – Poema de Giacomo Lombardi), Fernando Valente (Sonata para violino e piano), António de Sousa Dias (Cinco Circunstâncias) e Ângela Lopes (Duas Cantigas de Amigo).

“Dessas vivências e experiências pessoais, de músico e de pessoa, com os compositores e com as compositoras do programa, misturam-se amizades e cumplicidades entre discípulos, amigos, mestres, colaboradores, tudo colorido pelo conhecido e pelo desconhecido de gerações distantes no tempo, com os extremos entre o gigante Xenakis e a jovem Camila Menino”, refere o compositor.

Sob a direcção de Brian MacKay, o concerto terá como intérpretes Natasa Sibalic (soprano), Ana Cláudia de Assis (piano), Katharine Rawdon (flauta), Paulo Gaspar (clarinete), Eliot Lawson (violino), Luís Pacheco Cunha (violino), Catherine Strynckx (violoncelo) e Adriano Aguiar (contrabaixo).

Discípulo de Xenakis

Nascido em Viana do Castelo, Cândido Lima estudou composição com Xenakis e direcção de orquestra com Gilbert Amy e Michel Tabachnik, destacando-se como um dos primeiros representantes em Portugal dos domínios da electroacústica e da informática musical, que estudou nas universidades de Vincennes e Panthéon-Sorbonne, em Paris, tendo estagiado no IRCAM e no CEMAMu. Foi o primeiro compositor português a utilizar em simultâneo, entre outros meios, computador, electroacústica e orquestra, em obras como Oceanos e A-mèr-es (1978 e 1979).

Autor de séries para televisão e rádio Sons e Mitos, Fronteiras da Música, No Ventre da Música, Evocações (ABZ de Júlio Montenegro) –, bem como de diversos ensaios e outros textos, Cândido Lima foi ainda o criador do Grupo Música Nova e tem uma vasta carreira como professor e compositor.

Os seis programas delineados para a presente edição do Festival CriaSons, apoiada pela Direcção-Geral das Artes, serão apresentados em diversos auditórios e teatros do país  Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Faro, Mirandela, Vila Real, Seia, Almada, Évora –, e em digressões internacionais. Prevê-se ainda que todas as novas obras sejam editadas em CD e em partitura.

Os próximos concertos do Festival CriaSons incluem os programas 
Argentino em Portugal, concebido por Alejandro Erlich-Oliva (novamente em Lisboa, no Palácio Foz, a 11 de Fevereiro); Ouvi, claramente ouvido, o lume vivo, de Eurico Carrapatoso (Casa Municipal da Cultura de Seia, a 
2 Março); 
Sopro XX/XXI, de Alexandre Delgado (Convento dos Capuchos, Costa da Caparica, a 
6 Abril); e 
Persistência, de Amílcar Vasques-Dias (Teatro Garcia de Resende, em Évora). 

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