Há mais de 73 mil espécies de árvores no mundo e 9000 delas ainda estão por descobrir

Surgiu esta segunda-feira a primeira estimativa científica sobre o número e riqueza de espécies de árvores a nível global, que inclui as já descobertas e aquelas que estão ainda por descobrir. A América do Sul é onde se concentram mais.

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Grupo de mais de 100 cientistas "contou" quantas espécies de árvores o mundo tem Unsplash

Uma, duas, três, … e poderíamos continuar a contar espécies de árvores até ultrapassarmos o número 73.000 – afinal, esta é a estimativa de um grupo de mais de 100 cientistas para o número de espécies de árvores que existem no mundo. Contudo, dessas mais de 73 mil espécies, só cerca de 64 mil foram observadas, o que significa que ainda estão por ser descobertas mais de 9000. Todos estes valores são apresentados na edição desta segunda-feira da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Quantas espécies de árvores existem exactamente no planeta? Responder a esta questão não é propriamente uma tarefa fácil. A “contagem” desses subgrupos que diferenciam as árvores umas das outras enfrenta desafios financeiros, taxonómicos, logísticos ou até ao nível das diferenças na cobertura geográfica nas listas publicadas sobre este tema.

“Até hoje, os nossos dados de grandes áreas do planeta eram muito limitados e baseados em observações no terreno e listas de espécies que abrangiam diferentes áreas. Estas limitações eram prejudiciais a uma perspectiva global sobre esta questão”, contextualiza Roberto Cazzolla Gatti, professor do Departamento de Ciências Ambientais, Geológicas e Biológicas da Universidade de Bolonha (em Itália) e um dos autores do artigo agora publicado na PNAS, num comunicado da sua instituição sobre o trabalho.

Nessa investigação foi possível fazer a primeira estimativa científica sobre a diversidade de espécies de árvores a nível global, que inclui as já descobertas e aquelas que estão ainda por descobrir, considera a própria equipa. Para se conseguir fazer esse trabalho, o grupo com mais de 100 cientistas de todo o mundo recolheu dados das bases de dados mais abrangentes sobre espécies de árvores florestais. Identificaram-se assim aproximadamente 40 milhões de árvores pertencentes a cerca de 64 mil espécies.

Mas o caminho não ficou por aqui. Com base no resultado anterior, a equipa fez uma análise estatística através de métodos de inteligência artificial e do supercomputador do Laboratório de Computação e Inteligência Artificial Avançada Florestal da Universidade de Purdue no Indiana (nos Estados Unidos).

No final, depois de todos os cálculos e análises, a equipa estimou que a Terra tenha aproximadamente 73.300 espécies de árvores – numa tabela divulgada no artigo científico indica-se que serão entre 73.271 e 73.276. Isto significa que cerca de 9200 espécies ainda estão por ser descobertas. No artigo científico, destaca-se ainda que quase um terço da riqueza total das árvores na Terra é composta por espécies raras, o que mostra a vulnerabilidade desta biodiversidade às pressões antropogénicas (causadas pelo humano), como a desflorestação.

Há diferenças a assinalar entre as áreas geográficas. As estimativas mostram que cerca de 43% (aproximadamente 31 mil) de todas as espécies de árvores da Terra estão na América do Sul. Essa diversidade é sobretudo encontrada em florestas tropicais, matagais ou savanas maioritariamente na Amazónia e nos Andes. Aqui, na América do Sul, haverá quase 4000 espécies por identificar e o maior número de espécies raras do planeta – são cerca de 8200. Muitas das árvores são endémicas desta área.

A seguir à América do Sul, está a Eurásia com 22% (cerca de 13 mil) das espécies de árvores. Aqui, mais de 2000 espécies serão ainda desconhecidas. África tem 16% (mais de 11.800) das espécies, sendo que se desconhecerão mais de 1400 delas. Já a América do Norte tem 15% (mais de 11.100) e cerca de 2400 desconhecidas. Por fim, surge a Oceânia com 11% (mais de 8200) e com 1555 por conhecer.

Dados a nível continental e global

Este estudo apenas tem dados a nível continental e global. Portanto, a partir deste trabalho, não se pode ter acesso ao número de espécies apenas em Portugal. “Provavelmente, haverá muito poucas espécies por descobrir em Portugal, isto se existir alguma”, refere ao PÚBLICO Peter Reich, investigador da Universidade do Minnesota e um dos autores do artigo, que teve a participação do português Helder Viana, investigador do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Devido à ligação terrestre, a Europa e a Ásia também foram avaliadas em conjunto e não há valores só para Europa ou só para a Ásia.

Como estamos a falar de estimativas, os valores alcançados podem pecar por excesso ou defeito? Não é fácil responder a esta pergunta e Peter Reich começa por ressalvar que esta é a primeira estimativa com base científica feita a nível global. Portanto, não espera que esta seja infalível e completamente certeira. Mesmo assim, caso seja uma subestimativa – na sua opinião –, será uma “subestimativa modesta”.

Uma das maiores dificuldades tem sido identificar árvores em áreas (por exemplo) tropicais e aí poderão estar mais espécies do que o esperado. “Em vez das cerca de 9000 espécies desconhecidas, poderão ser 10.000 ou 12.000, o que fará com que sejam cerca de 75 mil as espécies em todo o mundo. Mas isto é apenas o meu palpite!” Portanto, uma das propostas dos cientistas no artigo científico é precisamente que se estude com mais precisão a abundância de espécies de árvores em área tropicais, subtropicais e até montanhosas de todos os continentes.

Estudos como este podem ajudar a estimular a conservação da biodiversidade. “O nosso reconhecimento de que muitas espécies conhecidas e desconhecidas serão raras significa que elas são mais vulneráveis à extinção do que pensávamos”, considera Peter Reich. “Além disso, ao identificamos locais com muita biodiversidade, isso pode ajudar a dar prioridade a esforços de conservação.” Já Roberto Cazzolla Gatti faz questão de acrescentar: “Um maior conhecimento da riqueza das árvores e da sua diversidade é a chave para preservarmos a estabilidade e a funcionalidade dos ecossistemas.”

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