Open da Austrália sob fogo por confiscar t-shirts de apoio a Peng Shuai
Tentativa de aceder ao recinto com mensagem direccionada à tenista chinesa foi travada pela organização. Actuais e antigos jogadores já repudiaram a decisão.
A federação australiana de ténis (Tennis Australia) volta a estar no centro das atenções. Depois da polémica em torno da participação de Novak Djokovic no Open da Austrália, agora são as manifestações de apoio a Peng Shuai a gerar desconforto. Tudo porque a organização do torneio impediu alguns adeptos de usarem t-shirts alusivas à tenista chinesa, cujo paradeiro continua a ser incerto.
Um par de incidentes registado nos últimos dias chamou a atenção de algumas figuras da modalidade. Os organizadores do Open da Austrália pediram a alguns activistas dos direitos humanos que tentavam entrar no recinto com t-shirts que tinham estampada a pergunta “Onde está Peng Shuai?” que cobrissem essas palavras ou que retirassem a camisola. Uma decisão que, defenderam, foi tomada ao abrigo da política de venda de bilhetes em vigor.
What’s going on!? What lack of courage! What if you did not have Chinese sponsors #1573 #beyonddisappointed https://t.co/QghLVm8nKF
— Nico Mahut (@nmahut) January 23, 2022
“De acordo com a nossa política de entrada [no recinto], não são permitidas roupas, tarjas ou cartazes com conteúdo comercial ou político”, explicou a Tennis Australia, em comunicado. “A segurança de Peng Shuai é a nossa principal preocupação. Continuamos a trabalhar com a WTA e com a comunidade global do ténis para clarificar a situação”.
Esse não é o entendimento, porém, de alguns atletas e ex-atletas, que já se manifestaram contra esta tomada de posição. “O que se passa? Que falta de coragem! E se não tivessem patrocinadores chineses?”, questionou o francês Nicolas Mahut (5.º do ranking ATP), no Twitter, numa alusão a empresas como a Luzhou Laojiao, que comercializa bebidas espirituosas e é um dos principais sponsors do torneio.
A antiga estrela do ténis feminino, Martina Navratilova, também foi dura nas palavras: “Isto é simplesmente patético. A WTA [entidade que rege o ténis feminino] está sozinha nesta luta”, escreveu, enquanto a francesa Alizé Cornet (61.ª do ranking) deixou um apelo: “Não vamos calar-nos!”.
Estes incidentes já geraram, entretanto, uma acção espontânea de angariação de fundos. Na plataforma GoFundMe, foi praticamente atingido o objectivo de reunir 15 mil dólares para mandar estampar cerca de 1000 t-shirts que serão oferecidas aos adeptos nas imediações do recinto, em Melbourne. A ideia é dificultar a vida à organização do major australiano, chamando simultaneamente a atenção para um problema que continua por solucionar.
O paradeiro de Peng Shuai continua a ser uma incógnita, mesmo depois de uma intervenção do Comité Olímpico Internacional, que estabeleceu contacto por videoconferência com a tenista chinesa. Em causa, recorde-se, está o facto de a atleta ter denunciado um suposto abuso sexual de um alto representante do Governo chinês, com o qual chegou a ter uma relação.
Esta tomada de posição da organização do Open da Austrália não é, porém, um exclusivo desta prova. Algo de idêntico acontece noutro torneio do Grand Slam, o de Wimbledon, que proíbe expressamente a presença de “quaisquer objectos ou roupa que exibam mensagens políticas ou ofensivas” no interior dos recintos.