Morreu André Leon Talley, braço direito de Anna Wintour na Vogue e consultor dos Obama

O jornalista, que escreveu para dezenas de conceituadas publicações de moda, foi o primeiro afro-americano a assumir um lugar de relevo no sector. Tinha 73 anos.

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André Leon Talley na Semana da Moda de Nova Iorque, em Setembro de 2012 Reuters/Carlo Allegri (Arquivo)

André Leon Talley pode ser um nome que quem não segue a indústria da moda não identifica à primeira, mas durante a sua vida destacou-se como uma das figuras mais proeminentes do sector: foi o primeiro director criativo negro da Vogue, entre 1988 e 1995, e revolucionou o sistema ao defender a diversidade na indústria. Morreu, esta terça-feira, num hospital em White Plains, Nova Iorque, depois de ter sofrido um ataque cardíaco, confirmou o antigo editor da Vanity Fair, Graydon Carter.

Nascido em Washington D.C., Talley cresceu na Carolina do Norte, onde prevaleciam as leis estaduais e locais Jim Crow, que estabeleciam a segregação racial. Cresceu com a avó, que trabalhava nas limpezas na Universidade de Duke, em Durham, e que respeitava escrupulosamente as leis Jim Crow. “Durante muito tempo, a minha avó não permitiu que os brancos entrassem na nossa casa”, revelou, numa entrevista.

Foi com a avó que desenvolveu o seu gosto pela moda, tendo visto uma Vogue, pela primeira vez, na biblioteca local, quando tinha uns dez anos. Soube que era aí que queria estar e foi aí que chegou: primeiro como chefe de redacção, entre 1983 e 1987, e a seguir como director criativo. Mas, em 1995, outro desafio se desenhou no horizonte: Paris. Talley não pensou duas vezes fez as malas e rumou à cidade luz para trabalhar para a W Magazine. No entanto, bom filho à casa torna e, três anos depois, o jornalista regressou à Vogue, onde se tornou o braço direito da implacável e influente Anna Wintour.

A relação era de admiração e respeito mútuos, mas nem sempre fácil. Sobre isso, André Leon Talley lançou o livro The Chiffon Trenches: A Memoir, em 2020, onde recorda a relação tumultuosa e levanta o véu sobre o racismo que paira sobre o mundo da moda – o livro está entre os best-sellers do New York Times.

Mas esta não foi a sua primeira incursão na escrita: em 1984, partilhou com Richard Bernstein a autoria de MegaStar, que contou com prefácio de Paloma Picasso e que incluía retratos de celebridades; em 2003, publicou a autobiografia A.L.T.: A Memoir e, dois anos depois, escreveu A.L.T. 365+, uma monografia de arte concebida por Sam Shahid, em que é documentado um ano da vida do jornalista.

Uma “força da natureza”

A sua influência era tal que foi consigo que os Obama se aconselharam sobre o estilo que deveriam adoptar ainda antes da entrada na Casa Branca. Foi Talley que apresentou Michelle Obama ao trabalho de Jason Wu, a quem a primeira-dama comprou vários vestidos.

Na televisão, fez parte do júri do programa America's Next Top Model (transmitido em Portugal pelo SIC Mulher), de Março de 2010 a Dezembro de 2011, e a sua vida é retratada no documentário de Kate Novack, The Gospel According to André, que estreou no Festival de Toronto, Canadá.

A notícia da sua morte acabou por apanhar muitos de surpresa e as reacções não se fizeram esperar. O apresentador Andy Cohen usou o seu programa Watch What Happens Live para partilhar uma mensagem de pesar: “Estou um pouco aluado neste momento porque, durante o intervalo, recebemos a notícia de que o nosso querido amigo André Leon Talley morreu”, disse, citado pela People. “Era um tipo incrível, maravilhoso e vamos sentir a sua falta, ele era uma grande força da natureza.”

Já a designer Diane von Fürstenberg usou o Instagram para se despedir: “Adeus, querido André”, começa por escrever, acrescentando que “ninguém viu o mundo de uma forma mais glamorosa do que tu”.

Também Marc Jacobs usou as redes sociais para prestar um tributo a Talley. “Defendeu-me e foi meu amigo desde o meu início”, conta. Já o estilista Christian Siriano considerou ter-se perdido um ícone “que mudou o jogo [da indústria da moda] para tantos”.

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