Supremo Tribunal da Índia quer investigar líderes hindus por incentivo ao “genocídio” de muçulmanos

Líderes religiosos hindus no estado de Uttarakhand foram gravados a apelar ao extermínio físico da comunidade muçulmana e a pedir aos hindus que peguem nas armas.

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Desde que Modi chegou ao poder, as perseguições aos muçulmanos e a outras minorias na Índia intensificaram-se Handout

O Supremo Tribunal indiano vai abrir uma investigação para apurar se um grupo de líderes religiosos hindus fez incentivos ao “genocídio” da população muçulmana no estado de Uttarakhand, na região dos Himalaias.

Em causa estão declarações proferidas durante uma reunião entre líderes religiosos hindus na cidade sagrada de Haridwar, em Dezembro, em que foram feitos apelos à comunidade local para se armar para combater muçulmanos, de acordo com documentos policiais citados pela Al-Jazeera.

Nas redes sociais circulam vídeos do encontro e, num deles, uma mulher insta os restantes participantes a assassinar muçulmanos sem terem receio de vir a ser presos. “Mesmo que apenas uma centena de nós se venha a tornar soldados e matem dois milhões deles, seremos vitoriosos (…) Só com esta atitude é que se poderá proteger sanatana dharma”, afirmou a oradora, utilizando uma expressão que pode ser traduzida como “ordem eterna” e identifica-se com a forma suprema do hinduísmo.

A polícia local também está a investigar o caso e tem interrogado pessoas suspeitas de discurso de ódio, diz a Al-Jazeera. Esta quarta-feira, três juízes do Supremo Tribunal enviaram uma notificação oficial ao governo estadual para informar que pretendem abrir uma investigação ao incidente.

Os ataques contra as minorias religiosas na Índia têm-se multiplicado desde que o partido nacionalista Bharatiya Janata (BJP) chegou ao poder a nível nacional, em 2014. O primeiro-ministro Narendra Modi é acusado de promover uma agenda que discrimina as minorias religiosas, sobretudo os muçulmanos. Cerca de 14% da população indiana é muçulmana, mas os hindus representam a esmagadora maioria (perto de 80%).

Fundada como uma república multicultural, com o BJP no poder as tentativas para fazer da Índia um Estado marcado pela supremacia hindu são frequentes.

Nos estados governados pelo BJP, como Uttarakhand, que vai a eleições em Fevereiro, a situação é ainda mais preocupante. Em Haryana, grupos de hindus têm tentado impedir os muçulmanos de realizar as suas orações de sexta-feira em parques públicos – as autoridades do estado dirigido pelo BJP não têm permitido a venda de propriedades para a construção de mesquitas.

Em Novembro, extremistas hindus incendiaram a casa de um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros muçulmano, Salman Khurshid, que havia comparado o nacionalismo hindu com o comportamento de grupos terroristas como o Daesh.

Vários estados têm também aprovado legislação que torna ilegais os casamentos inter-religiosos em que haja algum indício de “conversão forçada” e pune de forma severa os seus participantes. Na base deste tipo de lei – em vigor em pelo menos quatro estados indianos – está a convicção partilhada por parte da sociedade de que muitos casamentos entre homens muçulmanos e mulheres hindus têm o único objectivo de obter conversões religiosas.

Segundo o ideário do BJP e da sua organização-mãe, a Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), os hindus enfrentam uma ameaça demográfica perante o crescimento populacional da comunidade muçulmana na Índia, embora esta tendência não seja comprovada pelas estatísticas.

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