Regresso ao ensino presencial? Especialistas não são unânimes

Vice-presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública entende que será “mais prudente” que alunos do 1.º e 2.º ciclo não voltem à escola enquanto não completarem a vacinação. Governo avança com reabertura

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O Governo vai decidir-se pela reabertura das escolas a 10 de Janeiro Daniel Rocha

O vice-presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, defende que os alunos do 1.º e 2.º ciclo devem manter-se em casa até ao final do mês. As crianças devem retomar as aulas a partir da próxima segunda-feira, como está previsto, mas em regime de ensino à distância. Só depois da segunda dose da vacinação, devem voltar à escola, entende este especialista.

O regresso ao ensino à distância para os alunos dos dois primeiros ciclos da escolaridade obrigatória seria a decisão “mais prudente” para Tato Borges. O especialista esclarece que esta é a sua opinião pessoal. O tema não reúne consenso dentro da direcção da Associação de Médicos de Saúde Pública.

E não é esse o caminho proposto pela especialista em saúde pública Raquel Duarte. No final da reunião do Infarmed desta quarta-feira, o Presidente da República disse que a proposta apresentada pela especialista que tem formulado as propostas para o Governo “não previu, mesmo na situação de alerta, especificamente medidas que questionem aquilo que o Governo tem definido quanto à abertura das aulas”. “E previu um número muito limitado de medidas em sectores muito específicos da actividade social.”

Mais tarde, à CNN, Raquel Duarte esclarecia: em relação às escolas, a proposta do seu grupo é que, tendo em conta não só a saúde mas também o peso económico, social e psicológico do fecho destes espaços, o sector escolar funcione normalmente com as medidas preventivas gerais.

A solução que Gustavo Tato Borges advoga prende-se, sobretudo, com o facto de os alunos dos 1.º e 2.º ciclo ainda não terem a vacinação contra a covid-19 completa. A decisão de imunizar a população entre os cinco e os 11 anos foi anunciada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) no início do mês passado. Estão imunizadas cerca de 100 mil crianças, segundo o último balanço do Governo. A maioria destes apenas receberá a segunda dose em Fevereiro.

Ainda que “concorde com a ideia” de que as escolas “não são o motor da pandemia”, Gustavo Tato Borges lembra, no entanto, que num momento em que há dezenas de milhares de novas infecções por covid-19 todos os dias, “há maiores probabilidades de serem infectadas crianças”.

O risco de infecção dos alunos acarreta, desde logo, riscos para a saúde, dos próprios e daqueles com quem contactam, mas a situação criará também “grandes perturbações” para as escolas, antecipa o vice-presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública.

As mais recentes orientações da DGS vão fazer com quem deixem de ser enviadas para isolamento profiláctico turmas inteiras no caso de haver um diagnóstico positivo entre os alunos. Só que, em contrapartida, aumentarão os rastreios. Face ao acumular de casos dentro das suas turmas, os estudantes “correm o risco de estar a fazer testes de três em três dias”, afirma.

O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares não espera outra decisão que não passe pela “reabertura das escolas, com toda a normalidade”. Manuel Pereira, que tinha admitido, na semana passada, que o contexto de “alarme social” à volta da nova vaga de covid-19 pudesse implicar um regresso ao ensino à distância, acredita que as declarações do secretário de Estado adjunto e da Saúde, no início da semana, quando afirmou que as aulas vão ser retomadas em 10 de Janeiro vieram “pôr água na fervura”. “A partir daí, toda a gente começou a trabalhar para garantir que as escolas estão prontas para receber os alunos na segunda-feira.”

O Conselho de Ministros vai assumir a reabertura das escolas na segunda-feira, dia 10, como estava previsto, e o Governo considera que há condições de o ensino ser menos afectado devido às novas regras aprovadas nesta quarta-feira pela Direcção-Geral da Saúde em relação aos confinamentos por causa dos contágios por covid-19, apurou o PÚBLICO.

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