Entre duas terras

Assistimos às maiores barbaridades ditas em público contra a gestão pandémica e em jeito de acicatar ânimos contra tudo e todos, sem se saber exactamente porquê.

Te puedes vender
Cualquier oferta es buena si quieres poder
Qué fácil es
Abrir tanto la boca para opinar

Em 1990 era lançada provavelmente a música mais célebre dos Heroes Del Silencio, a qual me recordo frequentemente por este trecho. Em véspera de quadra natalícia, recordo que existe todo um conjunto de profissionais de saúde que não se estão a expressar nos media ou nas redes sociais. Simplesmente estão desgastados com quase dois anos de pandemia e o desejo da grande maioria é simplesmente ajudar a população portuguesa da melhor forma possível.

Quis a realidade que um momento delicado na evolução pandémica se combinasse com um momento de campanha eleitoral. A comunicação da incerteza não é fácil à partida e o registo de base, com erros cometidos ao longo do tempo e uma insuficiente melhoria contínua, não facilita a gestão num novo momento com essas características.

Recordemos que hoje estamos muito melhor do que há um ano atrás, com uma variante mais transmissível em causa (ainda me refiro à delta), o que, paradoxalmente, nos coloca em maiores dilemas perante a incerteza da Ómicron.

Durante este período pandémico, assistimos às maiores barbaridades ditas em público contra a gestão pandémica e em jeito de acicatar ânimos contra tudo e todos, sem se saber exactamente porquê. É claro que existiram erros e que continuam a existir insuficiências em termos de gestão pandémica. A desmotivação e a insatisfação entre as fileiras do Serviço Nacional de Saúde são notórias, por vários motivos. Estes profissionais ficarão presos entre duas terras: a terra de quem não tem nada a oferecer ao combate pandémico senão a destruição da confiança nas instituições e a terra de insuficiências por resolver da gestão pandémica.

Tudo o que for dito por parte dos profissionais nas próximas semanas, seja a favor ou contra a gestão pandémica, será rapidamente canibalizado para o combate político ou ideológico de alcance por definir. Entre negacionistas, próximos disso, ou propagandistas, existe uma alternativa: nada dizer. Por isso, não se estranhe o que pode acontecer. Por cansaço, resignação, ocupação adicional ou mesmo opção, os profissionais ir-se-ão focar no que realmente interessar: ajudar, dentro das suas possibilidades, a população portuguesa a passar o melhor possível este Inverno.

É que entre duas terras, existe a terceira via: o interesse público. É lá que encontrarão a esmagadora maioria dos profissionais de saúde. À espera de dias melhores.

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