PRR: Digitalização do cinema português é oportunidade inédita de divulgação

O director da Cinemateca Portuguesa foi à Ajuda explicar como vão ser investidos os 10,9 milhões que a instituição e o ANIM vão receber. O plano vai abranger, entre outras coisas, a digitalização de 460 longas-metragens produzidas desde 1920 e 2010.

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José Manuel Costa, director da Cinemateca, foi à Ajuda apresentar o plano para o investimento de 10,9 milhões de euros Andreia Carvalho

A digitalização de mil filmes portugueses até 2025, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), é uma oportunidade de divulgar o cinema português “como nunca chegou a ser até agora”, afirmou esta quarta-feira o director da Cinemateca Portuguesa.

“Há um potencial enorme deste património para ser conhecido e desejado pela população. O que se trata agora é de responder a essa possibilidade”, adiantou o director da Cinemateca, José Manuel Costa, numa sessão de apresentação dos investimentos previstos no PRR para a área da Cultura, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.

Segundo o PRR, serão disponibilizados dez milhões de euros para a compra de equipamento e aquisição de serviços para digitalizar um milhar de filmes portugueses, entre longas e curtas-metragens, originalmente produzidas/exibidas em película.

Haverá ainda 900 mil euros destinados à modernização do Arquivo Nacional da Imagem em Movimento, dependente da Cinemateca Portuguesa.

José Manuel Costa sublinhou que o plano de digitalização é para pôr o cinema português “a circular intensamente fora da Cinemateca”, num processo que só funcionará em articulação com a modernização tecnológica - também prevista no PRR - dos teatros e cineteatros do país.

“O objectivo é que nem mais um filme fique fora do circuito de distribuição e exibição em todos os níveis que o compõem hoje. Que não haja mais filmes que só possam ser exibidos na Cinemateca. Haja vontade de ver os filmes, haja programadores que os programem, haja comunidades”, disse.

O director da Cinemateca Portuguesa explicou ainda que o plano abrangerá “todo o universo das longas-metragens ainda não digitalizadas”, ou seja 460 títulos produzidos desde 1920 até 2010.

Serão também digitalizadas algumas centenas das 13.500 curtas-metragens que estão em arquivo na Cinemateca, de toda a espécie e tipologia de produção.

“Na última década tínhamos conseguido digitalizar 53 filmes. Há mais 68 “longas” que estão agora a ser digitalizadas no projecto Filmar”, contabilizou. Com o investimento do PRR é dado “um pulo enorme e absolutamente crucial”.

Um novo circuito de distribuição

Segundo José Manuel Costa, a digitalização em alta definição de uma longa-metragem custará, em média, entre 13 e 15 mil euros.

Se um distribuidor estiver interessado em exibir um determinado filme, o Estado entregar-lhe-á uma matriz digital, mediante um pagamento de cerca de mil euros.

“No caso de não haver um distribuidor credenciado com capacidade para distribuir, e para que não fique nenhum filme de fora, a Cinemateca propõe-se entrar num pequeno circuito de distribuição próprio”, revelou José Manuel Costa.

Apesar de o cinema português ter uma baixa quota de audiência no circuito comercial, José Manuel Costa sublinha a possibilidade de os filmes poderem ser exibidos “intensamente no país” e “em simultâneo em várias salas”.

Segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual, antes da pandemia, em 2019, a quota de mercado do cinema português, em matéria de audiência, foi de apenas 4,5% do total, ou seja, 698.918 espectadores, dos 15,5 milhões registados.

“Não estou a querer simplificar que todas as obras do cinema português vão ser avidamente desejadas, pedidas por todos os programadores e salas, mas estou convencido de que há uma razão acrescida que leve a que esse património seja muito solicitado”, acredita José Manuel Costa.

A 13 de Janeiro, a Cinemateca Portuguesa organizará uma jornada nos espaços do ANIM, em Bucelas (Loures), para explicar à “comunidade cinematográfica” como será o processo de digitalização previsto.

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