Líderes pró-democratas de Hong Kong condenados por organizar vigília pelas vítimas de Tiananmen

Três personalidades relevantes do movimento oposicionista do território foram condenadas por terem organizado e participado numa acção de homenagem aos estudantes mortos no massacre de 1989.

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Chow Hang-tung assinala, em Junho deste ano, o massacre de Tiananmen com uma vela LAM YIK / Reuters

Três das principais figuras do movimento pró-democracia de Hong Kong foram condenadas esta quinta-feira por terem participado, no ano passado, na organização de uma vigília de homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen.

Os três activistas políticos condenados são o magnata Jimmy Lai, a advogada Chow Hang-tung e a ex-jornalista Gwyneth Ho, e todos negaram as acusações contra si.

Foram considerados culpados pelos crimes de promoção e participação numa reunião não autorizada e podem incorrer em penas de até cinco anos de prisão. A sentença é conhecida a 13 de Dezembro. Outros activistas envolvidos nas manifestações do ano passado já foram condenados a penas que variam entre os quatro e os dez meses de prisão.

Em causa estão as tradicionais vigílias de homenagem aos milhares de mortos no massacre de Tiananmen, em Junho de 1989, que em Hong Kong servem como uma das principais ocasiões para a oposição pró-democrática local se fazer notar.

Ao contrário do que acontece na China continental, em Hong Kong a população estava autorizada a organizar acções que marquem o acontecimento histórico, quando um protesto estudantil foi esmagado pelos militares chineses na Praça Tiananmen em Pequim, na noite de 4 de Junho de 1989 – calcula-se que milhares de pessoas tenham morrido, mas o Partido Comunista Chinês tem impedido qualquer investigação independente ou que sequer se faça referência ao episódio.

No entanto, nos últimos dois anos, pela primeira vez, as autoridades locais não autorizaram qualquer tipo de homenagem pública, citando as preocupações sanitárias decorrentes da pandemia da covid-19.

Para o campo pró-democrático, a decisão foi eminentemente política, e não científica, e integrou-se na tendência crescente das autoridades de Hong Kong em adoptar uma linha muito mais próxima de Pequim do que em tempos anteriores.

Dezenas de milhares de pessoas decidiram desafiar a proibição e participaram em vigílias no Victoria Park. Desde então, participantes e organizadores têm sido detidos e julgados.

A Amnistia Internacional considera as condenações dos três activistas um “ataque escandaloso aos direitos de liberdade de expressão e reunião”. “O governo de Hong Kong desprezou uma vez mais o direito internacional ao condenar activistas apenas por causa do seu envolvimento numa vigília pacífica, e com distanciamento social, por aqueles que foram mortos pelos soldados chineses a 4 de Junho de 1989”, afirmou o vice-secretário-geral da organização, Kyle Ward, num comunicado.

O desfecho do julgamento representa mais um duro golpe desferido no movimento pró-democrático de Hong Kong, que atravessa um dos períodos mais negativos desde a transferência da soberania do território para a China, em 1997.

Os três condenados são personalidades muito relevantes deste sector e já eram visados noutros casos judiciais, baseados em violações da lei de segurança nacional, aprovada em 2020, e que veio aprofundar as possibilidades de repressão de movimentos e acções políticas consideradas indesejáveis por Pequim.

Lai, de 74 anos, está em prisão preventiva há quase um ano e é acusado de conspiração com potências estrangeiras, sedição e fraude, e em Abril foi condenado por organizar duas manifestações no Verão de 2019. Em Junho, o jornal Apple Daily, que fundou há mais de 25 anos, foi forçado a encerrar depois da detenção de cinco editores e do congelamento de praticamente todos os seus fundos.

Chow Hang-tung era a antiga líder da Aliança de Hong Kong de Apoio aos Movimentos Democráticos e Patrióticos da China, a entidade responsável há mais de três décadas por organizar as vigílias de homenagem aos mortos de Tiananmen e que foi ilegalizada este ano. Chow é visada por várias acusações de violação da lei de segurança nacional.

Ho faz parte de um grupo de 47 políticos da oposição que foram acusados no início do ano por terem organizado eleições primárias para escolherem candidatos às eleições para o Conselho Legislativo.

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