Viver em Pandemia - a covid-19 e os (nossos) miúdos

Não se deve desvalorizar os sentimentos de uma criança, com “um são crianças” ou um “não entendem nada disto” ou “isto não os afeta, não percebem”.

Nas últimas semanas, foi-nos dado a conhecer, por diferentes meios, que em Portugal o número de casos positivos está a aumentar - com tendência a crescer – e, que o grupo etário com maior incidência da covid-19 são as crianças com menos de 9 anos.

As mesmas crianças (e famílias) que desde março de 2020, se tentam adaptar às grandes “alterações de vida” que o viver empPandemia exigiu e (ainda) exigirá. Algumas famílias, estão a gerir “novas” emoções e/ou a tentar perceber, o que pode representar, na prática, a informação de que são os mais novos que estão a ser os mais infetados e nesse sentido, grandes transmissores desta doença. Outras famílias com crianças, estão, por exemplo, a experienciar esta realidade, com filhos que “trouxeram o vírus para casa”, a lidar com o impacto que estas situações têm na (com)vivência familiar, a cumprir “novas” quarentenas – a “sentir na pele”, nalguns casos com sofrimento, estas “novas variantes” que têm atingido e modificado as rotinas familiares. E casos há, em que ainda se choram as perdas.

O impacto psicológico, que “o viver estes tempos”, pode ter nas famílias, nas crianças (...), não são uma novidade para ninguém, no entanto, perante estes novos dados, importa refletir, sobre o sofrimento psicológico que pode estar a acompanhar tantas famílias neste momento.

Algumas crianças, já perguntaram aos pais se iam morrer ou se os pais (ou avós) iam mesmo morrer. Choraram porque queriam estar com os amigos e familiares. Fecharam-se no quarto, perderam a motivação. Nem todos se “adaptaram” ao ensino à distância. Após os confinamentos, quando regressaram à escola vestiram fatos de super-heróis e, outros não queriam, ao final do dia regressar a casa – porque não sabiam se podiam regressar o dia seguinte. Alguns ainda recusam o toque. Muitos continuam com medo. Confusos. Tristes. E agora até ouviram dizer, que são eles, que estão “a passar o vírus”. E em alguns casos, aconteceu mesmo. Isto dói (lhes).

Estas crianças (e estas famílias) precisam de compreensão e apoio. Se adultos apresentam “dificuldades” em gerir, por exemplo, emoções/pensamentos no decorrer desta pandemia, se adultos procuram ajuda, porque sentem culpa por terem (mesmo sem culpa) contagiado outras pessoas, que implicações tudo isto pode ter “na cabeça” duma criança? – Isto e o que vivem desde março de 2020.

As crianças não passarão imunes, às consequências, que “este viver” pode ter na saúde mental.

Pais e famílias, têm um papel fundamental, na vida das suas crianças. É importante estar atento aos sinais que podem aparecer. E lembrem-se, alguns silêncios, são gritos – verdadeiros pedidos de ajuda.

Nem sempre as crianças conseguem (no momento) “falar” dos seus sentimentos, medos ou preocupações, mas por exemplo, conseguem expressar essas emoções no brincar.

Alerta quando a criança demonstra alteração duradoiras ao seu comportamento habitual (irritação ou apatia, alterações do sono, o “fazer xixi na cama”, isolar-se, chorar com mais frequência, surgimento de medos (...)).

Em momento algum, se deve desvalorizar os sentimentos de uma criança, com “um são crianças” ou um “não entendem nada disto” ou “isto não os afeta, não percebem”, o ainda “não os impacta, não sofrem, são miúdos”. Devem sim, procurar que a vossa dinâmica familiar, seja pautada por uma vinculação segura, uma comunicação aberta e sincera, onde a família acolhe e resolve, como uma verdadeira equipa. Uma família que se ajuda: na gestão do stress, na regulação das emoções, que explica e que “funciona como um porto seguro”.

Porém, também nos cabe a todos, acolher e não julgar.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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