Açoriano José Pacheco “promovido” para a direcção de André Ventura

Nome do deputado regional é a única alteração na lista de André Ventura. Líder admite que quer mostrar “sinal de unidade” depois de terem falado a duas vozes durante os últimos dias de negociação do orçamento insular.

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Pacheco é o deputado do Chega no parlamento açoriano LUSA/EDUARDO COSTA

O deputado açoriano José Pacheco é a novidade na lista proposta por André Ventura para a direcção nacional (DN), em substituição da arquitecta portuense Ana Motta Veiga. O movimento é visto como uma forma de sanar o desentendimento recente entre a cúpula do partido e o parlamentar dos Açores nas últimas duas semanas devido às negociações para o orçamento insular.

Mantêm-se na lista da DN de “continuidade”, como Ventura a descreveu no sábado, António Tânger Corrêa, Gabriel Mithá Ribeiro (que coordena também o gabinete de estudos), Marta Trindade e Pedro Frazão. O presidente do partido mantém também como seus secretários-gerais Tiago Sousa Dias e Pedro Pinto. Assim como não mexeu na lista de vogais — Ricardo Regalla, Diogo Pacheco de Amorim (director nacional), Nuno Afonso (chefe de gabinete parlamentar), Rita Matias (coordenadora da juventude), Rui Paulo Sousa (coordenador da comissão de ética) e Patrícia Carvalho (assessora de imprensa).

À chegada ao congresso para votar para os órgãos nacionais, André Ventura justificou esta promoção com o facto de Pacheco ter um “papel importantíssimo” no partido neste momento — na verdade é o único elemento, mais do que Ventura, que realmente conta para determinar a estabilidade de um governo — e por ser o “rosto institucional” do partido nos Açores.

“Entendi que devia ser dado um sinal de apreço pelos militantes açorianos e pelos Açores, mas também pelo trabalho que o Chega está a fazer nos Açores. E sim, também para mostrar um sinal de unidade que sempre dissemos que tinha existido.”

O líder do Chega procurou contornar as polémicas sobre as indicações que teria dado para os Açores e o seu não cumprimento por parte do deputado alegando que “tudo foi feito em total articulação e em concertação”, mas insistiu no aviso de que esta viabilização do orçamento foi “mesmo a última oportunidade”.

Para José Pacheco, esta “subida” na hierarquia do partido é a “demonstração do respeito de André Ventura pelo povo açoriano”. “Isto não é para mim”, insiste, ao PÚBLICO, o responsável pela estrutura insular onde num ano teve de lidar com a saída intempestiva do outro deputado eleito na Assembleia Regional e agora com o processo negocial do orçamento, onde não seguiu a recomendação da estrutura nacional para furar o acordo de apoio parlamentar e votar contra a proposta do Governo do social-democrata José Manuel Bolieiro.

José Pacheco acabaria por votar favoravelmente a proposta do orçamento e ajudar a que fosse aprovada à tangente. Foi decisivo o facto de Bolieiro ter acedido a toda as exigências do Chega, tinha dito ao congresso, no sábado, o deputado açoriano, tal como André Ventura já havia afirmado dois dias antes. Pacheco contou que na sexta-feira já tinha sido publicado o decreto de criação do gabinete anticorrupção.

O deputado diz que a sua missão na direcção nacional é a de um “papel diferenciador pela afirmação das autonomias e fazer valer isso dentro do Chega”. Ou seja, dar mais presença aos Açores no que o Chega levar à Assembleia da República, mas também fazer com que a estrutura regional possa ter mais liberdade para gerir a estratégia local.

“Os Açores vão ensinar à política nacional como é que se dialoga”, afirma José Pacheco. Sobre as dificuldades acrescidas de dialogar a nível nacional com o PSD, sobretudo quando Rui Rio tem assumido que não fará acordos com o Chega, o deputado açoriano desvaloriza e recorre à imagem do copo meio cheio ou meio vazio. “Aqui pode estar meio vazio.” Mas o Chega deve sempre mostrar-se disponível, insiste o deputado açoriano. “Nunca parar o diálogo é importante, mas quando ele [Ventura] sentir que há falta de respeito para com o Chega, eu serei o primeiro a dizer para fechar a torneira.”

“Eu sou pelo diálogo, sempre”, vinca, contando que tem feito “muito trabalho de corredor” no Parlamento açoriano. “Nós temos que saber falar. Toda a direita”, insiste. No sábado até disse aos congressistas que “se é possível governar com o Chega nos Açores, também é possível governar Portugal com o Chega”.

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