Chega-Açores perde líder e um deputado: Carlos Furtado passa a independente “com alegria”

Carlos Furtado, até aqui líder do Chega nos Açores, já passou a deputado independente na Assembleia Regional. Bate com a porta do partido, acusando Ventura de “tiques imperialistas”.

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Carlos Furtado André Kosters/Lusa

É um turbilhão no Chega dos Açores: o partido perdeu um dos dois deputados na assembleia regional. O até aqui presidente do partido no arquipélago, Carlos Furtado, vai passar a deputado independente, confirmou o próprio ao PÚBLICO, revelando também que se irá, “obviamente”, desfiliar do partido.

“O processo já está resolvido, eu passei à condição de independente, já foi feita essa comunicação à assembleia regional, o grupo parlamentar já deixou de ser grupo parlamentar e passou a representação parlamentar e eu já estou a ocupar outro lugar no hemiciclo”, afirmou Furtado, que se encontra na Horta, ilha do Faial, para o plenário da assembleia legislativa que decorre durante esta semana.

De nada serviram os apelos de André Ventura, que na manhã desta quarta-feira defendeu que o ex-líder regional deveria renunciar ao mandato de deputado para dar lugar ao número dois da lista. Carlos Furtado diz que foi “eleito pelo povo açoriano” e não esconde a alegria pela sua nova condição parlamentar. “Devo-lhe dizer que, para tranquilidade minha, é uma condição que assumo com alegria e com alguma satisfação. O ambiente tinha-se vindo a degradar e era chegado o momento de tomar uma decisão”.

À distância também se poderá dizer que serviram de pouco as eleições internas no Chega-Açores, de 1 de Maio, quando Carlos Furtado foi reeleito líder. Umas eleições antecipadas devido à necessidade de fazer uma “clarificação interna”, uma vez que eram conhecidos os constantes conflitos entre os – até aqui - dois deputados regionais do partido. José Pacheco, o outro deputado do Chega que continua no parlamento, chegou a entrar na corrida à liderança, mas saiu pouco depois, para evitar que Carlos Furtado passasse a independente, em caso de derrota nas eleições.

“Acima de qualquer papel, é uma questão de convicção”.

O Chega é um dos partidos que assinaram um acordo escrito com a coligação PSD, CDS-PP, PPM, para viabilizar o governo regional liderado por José Manuel Bolieiro. Apesar de o acordo ter sido firmado com o partido, Carlos Furtado diz que o seu apoio ao executivo não está em causa. “O meu acordo escrito é feito de aperto de mão e olhos nos olhos. Acima de qualquer papel é uma questão de convicção e as minhas convicções não mudaram nada”, afirma o novo deputado independente na assembleia regional.

A estabilidade governativa nos Açores não deverá estar comprometida. Indo a contas: os três partidos que integram o executivo açoriano (PSD, CDS-PP, PPM) representam 26 deputados. São precisos mais três para conquistar a maioria. Exceptuando o BE e o PS, sobram quatro deputados: o da Iniciativa Liberal, o do Chega, o do PAN e o do agora independente Carlos Furtado. Todos estes quatros deputados viabilizaram o Orçamento regional para este ano.

Ainda assim, André Ventura já anunciou a intenção de se reunir com Bolieiro para avaliar o apoio do partido à solução governativa. O líder nacional marcou uma conferência de imprensa para retirar a confiança política a Furtado, criticar a “subserviência” do Chega para com o PSD na região e anunciar que o partido irá passar a ser gerido nos Açores por uma comissão executiva nacional, em “articulação” com a direcção regional.

A polémica no Chega estalara no dia antes, terça-feira, numas designadas “jornadas parlamentares” marcadas por André Ventura em Ponta Delgada, que obrigaram os deputados regionais a faltar ao plenário. Nessas “jornadas”, Carlos Furtado revelou não ter condições para continuar a liderar o partido a nível regional, por estar sob “uma enorme pressão profissional, pessoal e política”. Depois disso, ainda estava marcado um jantar-comício com Ventura, mas o evento acabou com Furtado a jantar apenas com os membros mais próximos da sua direcção.

Sobre a conferência de imprensa de André Ventura, Carlos Furtado é claro: “As declarações do doutor André Ventura demonstram bem porque é que entrámos em ruptura. São declarações imperialistas”, atira, acrescentando que as decisões de Ventura passam “um atestado de incompetência” aos membros do Chega-Açores. “São tiques imperialistas que já vou observando há algum tempo, mas, como pessoa moderada que sou, fui levando com estas situações a bem de uma causa maior, que seria um projecto de uma direita séria em Portugal”.

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