Covid-19. Um em cada dois jovens em idade escolar está em sofrimento psicológico

Segundo Margarida Gaspar de Matos, a percepção de risco por parte dos mais novos “é praticamente nula”, sendo que a maior parte acha que “não está minimamente em risco”. No seu entender, é necessário focar a intervenção nos comportamentos de protecção.

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As escolas são hoje um cenário de “grande turbulência”, afirma Margarida Gaspar de Matos, psicóloga e investigadora Diego Nery

Um em cada dois jovens em idade escolar está em sofrimento psicológico, disse esta sexta-feira a coordenadora da task-force de Ciências Comportamentais aplicada ao contexto covid-19, afirmando que as escolas são hoje um cenário de “grande turbulência”.

Margarida Gaspar de Matos, psicóloga e investigadora da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, afirmou na sua intervenção na reunião no Infarmed, em Lisboa, que observar estes sintomas nos jovens a incomoda.

“Isto foi um dado de há três dias de uma reunião de saúde pública, um em cada dois jovens está com sinais, não de doença mental, mas de sofrimento psicológico nos diferentes contextos, nas escolas, nas universidades nos locais de trabalho”, afirmou na reunião que juntou especialistas, membros do Governo e o Presidente da República, para analisar a situação epidemiológica no país.

A psicóloga também manifestou preocupação com as mulheres, nomeadamente as que têm filhos. “O que há nas escolas? Jovens, crianças e adolescentes e mulheres, nomeadamente mulheres com filhos. Portanto, as escolas são um cenário de grande turbulência neste momento para o qual temos de olhar com muito cuidado”, advertiu.

No seu entender, é necessário focar a intervenção nos comportamentos de protecção da transmissão do vírus SARS-CoV-2. Mas, avisou, “não é no comportamento em si, é na competência e na motivação e nas oportunidades, bem como com instruções claras e orientadas para a acção. Quem tem de fazer o quê, em que circunstância e como”.

“A comunicação tem de ser clara e tem de se virar para a acção e depois trabalhar contextos facilitadores dos comportamentos de protecção, por exemplo, o distanciamento nos espaços públicos e acesso a máscaras novas em locais de maior risco”, defendeu.

Exemplificou que, neste momento, o que se observa é que a percepção de risco por parte dos mais novos “é praticamente nula”, sendo que a maior parte acha que “não está minimamente em risco”.

Por outro lado, apontou, “o custo benefício da vacinação na população mais velha baixou imenso”.

“As pessoas tinham aquela ideia de que iam ser vacinadas e ficavam boas para sempre e esse bom princípio não aconteceu” e agora dizem-lhes que têm de fazer um reforço das vacinas. Perante isto, as pessoas dizem: “Não, isto não vai acabar nunca”.

“Se calhar nós enganámo-nos nesta coisa da palavra reforço, deveríamos ter chamado actualização vacinal”, salientou, explicando que a palavra reforço dá a ideia de que se enganaram na dose e que agora é preciso reforçar. “Nós estamos a falar para a população, não estamos a falar para técnicos”, vincou.

Alertou ainda para a questão da fadiga: “Se estamos cansados dessensibilizamos, já não ligamos e não conseguimos aderir às coisas”, bem como se a saúde mental fracassar e se houver sofrimento psicológico.

Para Margarida Gaspar de Matos, é preciso criar “várias estratégias de intervenção e várias políticas públicas”.

“Nós temos de ter um plano de acção e de comunicação articulados entre os vários agentes envolvidos. Não é só o cidadão sabe, o cidadão faz. Isto é mais muito mais complexo do que parece”, sublinhou.

Para a psicóloga, é preciso “continuar a motivar para os comportamentos de protecção”, alertando que há “várias barreiras no sentido de facilitar a propagação do vírus, o Natal e o frio”.

“Vimos hoje, por exemplo, que as pessoas que estão nos cuidados intensivos e que faleceram a maior parte não estava vacinada. Este dado é muito importante” e tem de ser divulgado para que as pessoas tenham uma percepção clara do risco e sirva como incentivo para se vacinarem.

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