Advogado do ex-cardeal Angelo Becciu pede anulação do julgamento

Fabio Viglione acusa os procuradores do Vaticano de não terem dado acesso atempado às provas contra o seu cliente e diz que as gravações usadas pela acusação foram “mutiladas”.

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O julgamento de Angelo Becciu será retomado a 1 de Dezembro Reuters/VATICAN MEDIA

O advogado do destituído cardeal italiano Angelo Becciu, Fabio Viglione, denunciou perante o tribunal do Vaticano que as provas do processo contra o seu cliente pela compra irregular de um luxuoso edifício em Londres em 2014 foram “mutiladas” e, em consequência disso, requereu a nulidade do julgamento.

“Temos o direito de ver as provas, não é um favor que nos estejam a fazer”, sublinhou o representante legal do cardeal, que ocupou entre 2011 e 2018 um dos cargos mais poderosos do Vaticano, a chefia da Secretaria de Estado, e está acusado de peculato, lavagem de dinheiro, fraude, abuso de poder e extorsão.

“Este sistema, este método, digo-o com convicção e humildade, é inadmissível”, afirmou Viglione, segundo relataram os jornalistas credenciados presentes no julgamento. O advogado de Becciu referiu-se, especificamente, às gravações em vídeo do interrogatório do monsenhor Alberto Perlasca, o principal denunciante no caso, que auxiliou na investigação ao reconstruir a trama perante os procuradores.

A Procuradoria do Vaticano foi obrigada a entregar para as actas do processo as gravações que efectuou durante a investigação, que somam mais de 115 horas de conversas gravadas, além de algumas escutas telefónicas, num total de 53 DVD.

O advogado de Becciu denunciou, no entanto, várias irregularidades, afirmando que a sua equipa jurídica teve apenas 15 dias para examinar as provas, sem poder fazer cópias. Além disso, constatou que as gravações não estão completas e contêm “omissões”, estando assim “mutiladas”.

As gravações são parte fundamental da investigação judicial, mas até dia 3 de Novembro não tinham ainda sido partilhadas com os representantes legais dos réus, o que os advogados consideraram uma grave violação do direito de defesa dos seus clientes. Nesse sentido, o advogado de Becciu reiterou perante o tribunal do Vaticano o pedido de anulação das acusações e do julgamento pelas falhas no que diz respeito às garantias da defesa no processo de investigação. 

No julgamento, que será retomado a 1 de Dezembro, outras nove pessoas para além de Angelo Becciu estão indiciadas por crimes como peculato, lavagem de dinheiro, fraude e abuso de poder pela compra irregular de um edifício em Londres, que provocou um rombo de 350 milhões de euros nas contas do Vaticano. Entre elas, está o advogado suíço René Bruelhart, antigo presidente da Autoridade de Vigilância e Informação Financeira do Vaticano, e dois corretores de bolsa, Gianluigi Torzi e Raffaele Mincione, envolvidos na aquisição parcial de um edifício comercial e residencial no bairro londrino de South Kensington.

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