“Exuberância nos mercados” preocupa BCE

Banco Central Europeu alerta para evolução recente dos preços das casas na zona euro, lembrando que, quando as taxas de juro começarem a subir, a correcção pode ser brusca.

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Pedro Fazeres

Com os Estados e a empresas mais endividados por causa da crise, os sinais de “exuberância” que se vêem actualmente no mercado residencial, de crédito e das criptomoedas estão a preocupar o Banco Central Europeu, que avisa para o risco de uma correcção brusca dos excessos quando as taxas de juro começarem a subir.

No seu relatório semestral de análise à estabilidade financeira na zona euro, a autoridade monetária europeia assinala que o recuo da pandemia e a retoma da economia registadas na zona euro durante o segundo e o terceiro trimestre deste ano dão motivos para um maior optimismo em relação a alguns dos riscos assinalados em relatórios anteriores, como por exemplo a ameaça de uma onda de insolvências empresariais, que parece agora menos provável de se concretizar.

No entanto, noutras frentes, a entidade liderada por Christine Lagarde detecta agora riscos acrescidos, ao ponto de utilizar a palavra “exuberância” para descrever a situação que se vive actualmente em algumas áreas dos mercados, fazendo lembrar o aviso realizado nos anos 1990 pelo então presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan quando se referiu à bolha que se tinha criado no mercado das empresas dotcom.

Agora, aquilo que o BCE diz é que “as preocupações estão particularmente relacionadas com bolsas de exuberância em mercados de crédito, activos e residenciais, assim como com elevados níveis de dívida no sector público e no sector empresarial”. E assinala que uma parte desta exuberância é ainda uma consequência dos impactos económicos da pandemia.

O cenário de taxas de juro extremamente baixas adoptadas pelos bancos centrais para contrariarem a crise económica, combinado com um aumento (forçado) da poupança dos particulares e com uma maior procura de imobiliário para habitação, fez com que, por exemplo, os preços das casas continuassem a subir, mesmo em países que já antes da crise eram alvo de avisos por parte do banco central por poderem estar a criar uma bolha no imobiliário.

De acordo com os dados do Eurostat, no segundo trimestre deste ano o índice de preços das casas na zona euro registou uma variação em relação ao período homólogo do ano anterior de 6,8%, sendo que em alguns países como a Alemanha, os Países Baixos ou a Áustria a subida de preços superou os 10%. Em Portugal, a variação deste indicador foi, de acordo com o Eurostat, de 6,6%.

Noutros mercados, com as taxas de juro a mínimos, a procura de rendibilidades mais elevadas por parte dos investidores também está a conduzir a que os investidores escolham activos mais arriscados, sejam estes títulos de dívida pública ou mesmo criptomoedas. Nestes mercados, teme o BCE, uma sobrevalorização dos activos pode estar a ocorrer.

Curiosamente, o BCE está preocupado com a forma como esses mercados possam vir a corrigir de forma brusca quando ele próprio começar a inverter as políticas que adoptou durante a crise. “Uma correcção nos mercados pode ser desencadeada por uma retoma económica mais fraca do que o esperado, pelo contágio de desenvolvimentos adversos nos mercados emergentes, pela re-intensificação do stress no sector empresarial não financeiro ou por ajustamentos abruptos nas expectativas nos mercados relativamente ao rumo futuro da normalização da política monetária”, diz o BCE.

Neste momento, nos mercados, uma das grandes questões que se coloca é se o BCE, perante uma inflação mais persistente do que o esperado, irá ser forçado a acelerar a retirada das suas políticas expansionistas, dando por concluídas as compras de dívida pública e começando a subir as suas taxas de juro de referência.  

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