Morreu Frederik de Klerk, o último Presidente do apartheid

De Klerk liderou o Governo de minoria branca na África do Sul até 1994, antes de o ANC de Nelson Mandela assumir o poder.

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Frederik de Klerk BAS CZERWINSKI/EPA

O último Presidente branco da África do Sul, Frederik Willem de Klerk, morreu esta quinta-feira na sua casa na Cidade do Cabo, disse a Fundação FW de Klerk num comunicado.

“O ex-presidente Frederik Willem de Klerk morreu pacificamente na sua casa em Fresnaye no início desta manhã após a sua luta contra o mesotelioma”, lê-se no comunicado.

De Klerk tinha 85 anos e liderou o Governo da minoria branca da África do Sul até 1994, quando o partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (ANC), assumiu o poder. No ano anterior, De Klerk dividira o Prémio Nobel da Paz com Mandela, que decidiu libertar da prisão. Contudo, o seu papel na transição para a democracia continua a ser contestado mais de 20 anos após o fim do apartheid.

Quando assumiu a presidência em 1989, De Klerk parecia o “exemplo máximo do homem do partido, nada mais, nada menos”, sem ter “nada no seu passado que fizesse imaginar um espírito reformista”, como o descreveu na sua autobiografia o próprio Mandela, cita a Reuters. Mas acabou por ser ele quem, surpreendentemente e sem avisar quase ninguém no seu próprio partido, fez um discurso bombástico ao Parlamento a 2 de Fevereiro de 1990, anunciando que o ANC deixava de ser banido e que o seu líder, Nelson Mandela, ia ser libertado após 27 anos de prisão.

Depois de libertar Mandela, o Governo de De Klerk começou a revogar muitas leis do apartheid, sem querer, no entanto, um sistema de maioria proporcional, em que sairia do poder. “Não esperem que vá negociar o meu caminho para fora do poder”, disse um dia, lembra o Washington Post. Foi precisamente isso que acabou por fazer.

Enquanto no palco internacional era celebrado e partilhava o Nobel com Mandela, internamente foi muito criticado por não ter impedido a violência política no período anterior às primeiras eleições multirraciais em 1994, escreve o New York Times.

Durante muitos anos, De Klerk insistiu que o apartheid tinha, na origem, uma “ideia honrada de justiça”, que ao longo do tempo tinha provado ser impraticável e injusta, e não uma máquina de repressão que negara à grande maioria dos sul-africanos os seus mais básicos direitos humanos, lembra o Washington Post.

Na Comissão de Verdade e Reconciliação, liderada por Desmond Tutu, De Klerk admitiu, em 1996, que causou “dor e sofrimento” e pediu por isso desculpas ao país.

Mas ainda no ano passado, lembra a agência Reuters, declarou que não considerava o apartheid um crime contra a humanidade, como é classificado pelas Nações Unidas.

Foi acusado em 2007 de ter “as mãos manchadas de sangue” por um comandante de polícia que chefiava um esquadrão da morte e perseguia activistas antigovernamentais. De Klerk negou as acusações, dizendo que tinha “a consciência tranquila”.

Frederik de Klerk tinha sido diagnosticado em Março com mesotelioma, um cancro que afecta o tecido que reveste os pulmões.

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