Jerónimo de Sousa diz que “geringonça” foi “uma fase” e “não se repetirá tal e qual”

O secretário-geral do PCP descarta a hipótese de integrar um governo socialista, caso exista um novo acordo de governação e vinca que partido pretende “continuar a ser um projecto alternativo”.

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Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP LUSA/RODRIGO ANTUNES

Jerónimo de Sousa rejeita uma narrativa “truculenta” em relação ao início e fim da “geringonça” e apesar do fim atribulado, depois de o PCP ter votado contra o Orçamento do Estado para 2022 e contribuído para o seu chumbo, o líder comunista continua a afirmar que o acordo governativo à esquerda “valeu a pena por aquilo que conquistou.

No programa Grande Entrevista da RTP3, o líder comunista destacou que os dois anos de pandemia acentuaram as dificuldades do país e admitiu que o apoio parlamentar do PCP ao Governo se poderá ter prolongado por força de resposta à pandemia. Evitando responder taxativamente, Jerónimo de Sousa apontou a “subordinação à União Europeia e ao euro” como matérias de discórdia com os socialistas. “Os problemas foram-se acumulando”, resumiu.

Se para pelo menos um membro do Governo – o ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos a “'geringonça' não foi um parêntese na vida política”, para Jerónimo de Sousa o acordo governativo que sustentou o PS “foi uma fase da vida política nacional e não se repetirá tal e qual”. Mas não adiantou em que moldes se poderá voltar a formar, assinalando apenas a disponibilidade do PCP para uma nova “convergência com o PS e não só”. E será sempre “o grau de convergência a determinar o nível do compromisso”, esclareceu. “O que for positivo terá o acordo do PCP”, acrescentou. Mas assinalou diferenças com o PS: “O PCP tem uma política própria que se incompatibiliza com a política do euro ou as políticas sociais e laborais que não respondem aos problemas. Continuamos a ter um projecto alternativo.”

Sobre o OE2022 Jerónimo de Sousa reconheceu que “a discussão [do OE] foi muito rica e muito fértil”, mas “a votação no comité central foi unânime” contra a “teimosia do Governo, persistência de manter questões tão importantes de fora”, declarou. O líder comunista exemplificou com o desacordo em relação ao valor do aumento do salário mínimo que, nas suas palavras, “não é uma reivindicação sindical, mas uma questão política de fundo”, parafraseando os que qualificaram a proposta orçamental de João Leão como “o OE da austeridade escondida”.

Sobre a possibilidade de se chegar a um acordo na fase da especialidade o líder comunista foi peremptório: “Todos nós temos uma dose de ingenuidade, mas todos nós já perdemos a inocência.” E assinalou que o PS retrocedeu repetidamente depois de se sentar com o PCP nas negociações. “O PS desistiu de conversar connosco”, concluiu.

O líder do PCP disse não estabelecer uma ligação entre a aproximação ao PS e a perda de votos nas eleições desde 2015 (nomeadamente nas últimas eleições autárquicas), e prefere olhar para uma mudança sociológica do eleitorado e dos militantes comunistas. “Os portugueses não recompensam o PCP, mas admiram e aplaudem [as posições do partido], afirmou.

Jerónimo de Sousa comentou ainda a intervenção do Presidente da República nestas últimas semanas e resumiu o comportamento de Marcelo como “desadequado”.

Quanto ao futuro do partido, liderado por Jerónimo de Sousa desde 2004, o secretário-geral comunista não adianta mudanças no horizonte. Sobre a possibilidade de João Ferreira se posicionar como o mais forte sucessor Jerónimo de Sousa, de 74 anos, afirma que é “um mero palpite”, que “não tem sustentação” e garante que “a questão não está colocada”. O líder comunista justificou-se e explicou que foi a sua experiência de vida que o levou a “tomar opções” e que assumirá sempre a responsabilidade para com o partido. “Se o partido precisa de mim, cá estou”, concluiu. 

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