Coimbra Bauhaus: um contributo para a coesão nacional

A constituição de uma nova área metropolitana não é só uma ideia urgente para um novo equilíbrio nacional, trata-se igualmente de um projeto vanguardista focado na salvaguarda ambiental, ecológica e na qualidade de vida.

Absolutamente nada me move contra Lisboa ou Porto. Cidades e áreas metropolitanas nucleares para o desenvolvimento do país, compostas por comunidades respeitáveis, metrópoles modernas que conseguem ombrear com os maiores pólos europeus.

Contudo, defender o progresso destas regiões e das suas gentes não conflitua necessariamente com um modelo complementar que promova a coesão nacional. E mais ainda quando analisamos em concreto o caso de uma região tão diversa e rica como é o Centro do país.

É precisamente na existência de territórios de inovação que acredito estar a solução para muitos dos inconvenientes reconhecidos e resultantes da bipolarização provocada por áreas metropolitanas “eucalipto”, que tudo centralizam deixando pouco espaço ao crescimento harmonioso do país, comprometendo decisivamente a saúde do sistema democrático e das suas instituições, abrindo inclusivamente portas aos indesejáveis populismos.

A ideia de constituição de uma nova área metropolitana – a Coimbra Bauhaus – não é só uma ideia urgente para a constituição de um novo equilíbrio nacional, trata-se igualmente de um projeto vanguardista focado na salvaguarda ambiental, ecológica e da qualidade de vida das próprias pessoas, modelo alternativo ao que atualmente vemos ser aplicado nas áreas metropolitanas existentes.

É meu entendimento que uma Coimbra Bauhaus deve-se encontrar assente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, refutando a lógica de escritórios e dormitórios, promovendo a inovação, a coesão territorial e a sustentabilidade nas mais variadas vertentes. No fundo, um território dinamizado à imagem do nosso século, que corresponda às necessidades das pessoas dentro dos limites disponibilizados pela natureza.

Coimbra tem todas as competências e capacidades instaladas para fazer acontecer este novo modelo: garante uma saúde de ponta e com múltiplas valências de reconhecido mérito internacional; possui comunidades escolares e uma academia universitária históricas na qualificação de jovens e adultos; conta com instituições e organizações robustas, mobilizadoras e inclusivas, formadas por pessoas de inquestionável notoriedade; e, não menos importante, detém uma marca e identidade muito próprias e que extravasam as delimitações regionais, tendo um impacto muito relevante no mundo lusófono.

Não é por acaso que foi esta a região contemplada para a instalação de um instituto de investigação do envelhecimento ativo e saudável, referência a nível europeu e mundial, precisamente num período da nossa história em que entramos num preocupante inverno demográfico nacional, com forte impacto regional. Se é certo que devemos prestar atenção a políticas eficazes de promoção da natalidade, temos simultaneamente de assumir enquanto prioridade o envelhecimento ativo e saudável (longevidade com qualidade).

Também não será certamente coincidência que nesta região continuemos a contar com excelentes resultados nacionais no que à educação não superior diz respeito, ao mesmo tempo que a Universidade de Coimbra continua em clara expansão nos campos do ensino, da ciência e da resposta aos desafios societais – com especial incidência no campo da sustentabilidade. Não é surpreendente, por isso, que contemos com a instituição de ensino superior mais sustentável a nível nacional e uma das melhores a nível mundial.

O que igualmente não é casual é o conjunto de pessoas e organizações da sociedade civil, nesta mesma região, com um peso nacional e internacional tão marcante. Coimbra desde sempre foi caracterizada pela sua irreverência na intransigente defesa da responsabilidade social e da construção de um mundo melhor, bem patentes pela quantidade de pessoas superiormente reputadas que provocaram mudanças estruturais, revolucionando e liderando relevantes setores da nossa sociedade, atravessando campos tão diferenciados que vão desde a justiça ao desporto.

E, finalmente, não é uma eventualidade o posicionamento de Coimbra no panorama da lusofonia, sendo muitas vezes o principal cartão de visita português de potências mundiais ou economias em desenvolvimento. A presidência das universidades de língua portuguesa por parte da região constitui bom exemplo disso, além dos evidentes cosmopolitismo e multiculturalismo que constituem marca d’água de Coimbra.

Aproveitando a abertura de um novo ciclo político para esta década que terá à sua disposição recursos financeiros inéditos, seremos coletivamente capazes de avançar definitivamente para o indispensável reequilíbrio do país?

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