Papa defende a formação de padres que trabalham com menores para “erradicar a cultura da morte” dos abusos

Francisco diz que a luta contra a pedofilia é um caminho que todos os católicos devem percorrer, “impelidos pela dor e pela vergonha de não terem sido sempre bons guardiães”.

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O Papa Francisco durante uma audiência no Vaticano Remo Casilli/Reuters

O Papa Francisco pediu a “formação renovada” de todos os membros do clero que trabalham com menores para “erradicar a cultura da morte” que advém de “todas as formas de abuso sexual, de consciência ou de poder”.

Numa mensagem enviada esta quinta-feira à conferência “Promover a protecção dos menores em tempo de Covid-19 e além”, que se realiza em Roma, com a participação de eurodeputados, deputados italianos e membros da Polícia Postal de Itália, Francisco exortou que se faça o possível “para criar uma cultura capaz de evitar que tais situações não só não se repitam como também não encontrem espaço para serem encobertas e perpetuadas”.

Para o Papa, a luta contra a pedofilia na Igreja é um caminho que todos os católicos devem percorrer, “impelidos pela dor e pela vergonha de não terem sido sempre bons guardiães, protegendo os menores que nos foram confiados nas nossas actividades educativas e sociais”. 

O Sumo Pontífice propõe uma “aliança educativa renovada” entre as gerações, sem esquecer os diversos contextos em que crescem os menores, capaz de estimular um “vínculo gerador e protector” e que inclua os leigos, de forma a evitar novos casos de abusos.

Considerando o abuso um “acto de traição da confiança” que “condena à morte quem o sofre”, o Papa defende que a prevenção deve ser um “processo permanente de promoção de uma confiança sempre renovada e certa na vida e no futuro, com a qual os menores devem contar”. Francisco pede também uma revisão da “forma de se relacionar com as gerações mais novas, para que possam mais uma vez ter a segurança da beleza do encontro, da conversa, do brincar e do sonhar”. 

No início de Outubro, o Papa expressara a sua “vergonha” pela “longa incapacidade da Igreja” para lidar com casos de padres pedófilos, após a publicação do relatório sobre os 330.000 casos de abuso ou violência sexual por parte do clero francês. “É um momento de vergonha”, disse Francisca na altura, expressando às vítimas a sua “tristeza e dor pelos traumas que sofreram”.

De acordo com o relatório, elaborado por uma comissão independente, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram abusados ou agredidos sexualmente por clérigos católicos ou religiosos entre 1950 e 2020. O número de vítimas ascende a 330 mil quando considerados “agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica”, nomeadamente nas capelanias, professores nas escolas católicas ou em movimentos juvenis.

As denúncias em França surgiram após sucessivos escândalos em países como os Estados Unidos, Austrália, Irlanda, Alemanha ou Polónia.Em 2019, o Papa Francisco ordenou a denúncia de abusos na Igreja Católica, que levou à criação de comissões diocesanas para lidar com denúncias, incluindo em Portugal.

No mês passado, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, o padre Manuel Barbosa, admitiu que a Igreja Católica poderá vir a adoptar “novas medidas” de prevenção e combate aos abusos sexuais cometidos por membros do clero português.

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