Leiloeira de Jerusalém põe à venda aparelho para tatuar prisioneiros de Auschwitz

Venda do terceiro conjunto de “carimbos” com agulhas usados para marcar números nos braços dos prisioneiros do campo de concentração e extermínio está a ser alvo de críticas.

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Jerzy Kamieniecki, sobrevivente de Auschwitz, com o seu número de prisioneiro tatuado no braço Jacek Proszyk

O responsável da leiloeira de Jerusalém que tem listado para licitação um conjunto de “carimbos” com agulhas de metal usados para marcar com números os braços dos prisioneiros no campo de Auschwitz, Meir Tzolman, diz que será “a última pessoa a querer diminuir o significado do Holocausto” e que com esta venda pretende “sensibilizar” o público para o tema,

É uma opinião bastante minoritária. O responsável do museu Yad Vashem, de Jerusalém, Dani Dayan, criticou a venda, assim como o chefe da Associação Judaica Europeia, o rabino Menachem Margolin.

Dayan criticou a “ganância” de quem vende (a leiloeira não identificou o vendedor) e Margolin escreveu mesmo uma carta ao ministro da Justiça de Israel pedindo-lhe para pôr termo ao que considerou “uma venda desprezível”, segundo a emissora britânica BBC.

A casa de leilões diz que se trata do “artigo mais chocante do Holocausto”, com 14 “carimbos” e um livrete de instruções do fabricante, Aesculup, para marcar gado – no entanto, os carimbos para venda são mais pequenos do que os de gado, e destinados a pessoas, diz a leiloeira. A leiloeira espera vendê-los por entre 30 mil a 40 mil dólares (cerca de 25 mil a 35 mil euros).

Este seria o terceiro conjunto de carimbos de Auschwitz, que era o único campo onde os nazis mandavam tatuar os prisioneiros. O mais antigo conjunto de que há conhecimento está no Museu Militar de São Petersburgo, e o segundo foi descoberto em 2014 e entregue ao museu de Auschwitz. O director do museu congratulou-se com o achado, “um dos mais importantes nos últimos anos”, disse então Piotr Cywinski. “Não queríamos acreditar que as ferramentas originais para tatuar prisioneiros poderiam ser descobertas depois de tanto tempo”, sublinhou.

Os responsáveis do campo decidiram começar a tatuar prisioneiros de guerra soviéticos no Outono de 1941, no lado esquerdo do peito. A partir da Primavera de 1942, os números começaram a ser tatuados nos braços dos prisioneiros judeus e de outros também. O método do carimbo, onde números podiam ser trocados de ordem e o conjunto era usado para perfurar a pele com as agulhas de cerca de um centímetro – e a tinta era depois posta na ferida – tornou-se pouco prático e a partir de certa altura foram usadas agulhas.

O Yad Vashem disse ainda ao site de notícias israelita Walla que era difícil avaliar a autenticidade do conjunto pela fotografia disponibilizada no site.

No Twitter, o director do Yad Vashem foi questionado sobre a razão pela qual o museu não comprava o conjunto, para evitar que pudesse cair nas mãos erradas. Dayan disse que o museu não comprava este tipo de objectos para não encorajar “vendedores gananciosos”, acrescentando que talvez fosse necessária legislação para esta questão, disse, citado pelo Times of Israel.

“Em princípio, o Yad Vashem opõe-se à existência de um mercado para objectos judeus ou Nazis do tempo do Holocausto, e por isso não compra esses objectos. Felizmente, o número de objectos doados é muito maior que os vendidos”, disse. “A solução pode ser legislação, mas não será certamente licitar em vendas de comerciantes gananciosos que só os irá encorajar a continuar [com as vendas]”.

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