Combatentes, a Pátria honrai que...
Este é o tempo de fazer justiça a quantos honraram a Pátria e o Governo em exercício não pode virar costas às suas obrigações.
Não sei se a Marinha Portuguesa ainda tem por regra ou obrigação colocar em lugar visível das suas embarcações ["A Pátria honrai que a Pátria vos contempla"] uma conhecida frase da autoria do rei D. Luís, marido pouco fiel da tão exótica quanto infeliz Maria Pia.
Dado que a Marinha nacional, na sequência do golpe militar de 74, com o regresso da liberdade e democracia e consequente retorno ao “jardim à beira mar plantado” sofreu uma compreensível redução no seu arsenal, temos sérias duvidas se tal frase ainda é visível no bojo das nossas corvetas ou até mesmo ensinada nas escolas.
De facto, e não obstante o aparecimento de alguns episódios nacionalistas a ter em conta e cuidado no espaço europeu, parece-nos oportuno recuperar esta frase a propósito daqueles que na nossa história recente também honraram a pátria portuguesa, apesar de esta pouca atenção lhes ter dado! E foram muitos milhares de jovens que durante 13 longos anos enfrentaram sucessivas vagas de guerrilha daqueles que lutavam contra a opressão colonial e aspiravam à liberdade.
Durante essa penosa caminhada alguns por lá ficaram sepultados e nunca recuperados, outros regressaram exaustos e estropiados, carregando as memórias trágicas do conflito transformadas em pesadelos de difícil recuperação.
Posto isto, como lamentamos que só quando decorridas três décadas após o termo do conflito, o país tenha dado alguns passos lentos e tímidos para mostrar gratidão e conceder um envergonhado apoio aos mais necessitados! Tão lentos e tímidos que a prestigiada jornalista Bárbara Reis os entendeu como merecedores duma análise para tese de doutoramento!
A mágoa que invade os corações dessa geração sacrificada e silenciosa que, a cada ano, por imperativo biológico, está mais reduzida é tão grande que nem o recente e juridicamente bem aperaltado diploma do Governo fez justiça a quantos viveram a guerra. Bonitos cartões de combatente, insígnias na lapela e bandeira no funeral, não retiram da rua, da pobreza e solidão aqueles que o destino e o país não protegeu.
Já não há desculpa para mais adiamentos. Este é o tempo de fazer justiça a quantos honraram a Pátria e o Governo em exercício não pode virar costas às suas obrigações. É isso que a minha geração espera. Justiça, apenas, e, já agora, respeito.