Laschet diz que CDU precisa de “novo começo”

Primeiro dia de negociações para uma coligação “semáforo” entre SPD, Verdes e liberais termina com tom optimista.

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Armin Laschet quer encontrar uma candidatura de consenso para chefiar a CDU FILIP SINGER/EPA

O chefe da União Democrata Cristã (CDU), Armin Laschet, disse esta quinta-feira que o partido precisa de “um novo começo”, depois de relatos de que teria dito ao grupo parlamentar que iria pôr o seu lugar à disposição, enquanto responsáveis do Partido Social Democrata (SPD), Verdes e liberais reportavam de um modo optimista sobre as conversações para uma potencial nova coligação de governo dos três partidos, que poderá ser a primeira do género a nível nacional na Alemanha.

Laschet disse aos jornalistas que iria propor que o partido organizasse um congresso para discutir a equipa de liderança e que iria procurar uma liderança que reunisse consenso.

Um afastamento de Laschet não é surpresa, já que sob a sua liderança o partido caiu para o mais baixo resultado da sua história, e várias vozes da CDU vinham já a pedir, até em público, a sua saída. O partido, tão marcado pela chanceler, Angela Merkel, que o levou para o centro durante os seus 16 anos no poder, poderá agora passar uma fase de indefinição até escolher um novo líder e um potencial novo rumo.

Uma potencial viragem à direita com nomes como Friedrich Merz (que tentou já duas vezes ser o líder do partido e foi derrotado primeiro por Annegret Kramp-Karrenbauer e depois por Armin Laschet) era vista por alguns observadores como um caminho de sucesso muito questionável, já que a CDU/CSU terá perdido mais votos sobretudo para o SPD, segundo as estimativas pós-eleitorais (1,5 milhões de votos para o SPD, quase um milhão para os Verdes, 800 mil para os liberais).

Além de Merz, perfilam-se de novo como candidatos Norbert Röttgen, o líder da comissão parlamentar de Assuntos Externos do Parlamento cessante e terceiro classificado na última corrida à liderança dos conservadores, e Jens Spahn, o ministro da Saúde que fez parte da “equipa” de Laschet na corrida à liderança depois de, em 2018, ter ficado em terceiro lugar quando o partido se decidiu por Annegret Kramp-Karrenbauer.

A CDU/CSU é o partido de governo por excelência na Alemanha, onde chefiou o Executivo em 52 dos 72 anos da República Federal. A potencial passagem à oposição é penosa para os democratas-cristãos, que eram os preferidos nas sondagens até a um mês antes das eleições, quando foram ultrapassados pelos sociais-democratas, com uma breve interrupção na Primavera, quando os Verdes chegaram, brevemente, a ficar em primeiro nos inquéritos de opinião.

Laschet continuou, no entanto, a dizer ao seu grupo parlamentar que uma potencial coligação chefiada pela CDU/CSU (com os Verdes e os liberais) não deve ser excluída com o seu afastamento da chefia.

Mas esta opção parece cada vez mais longínqua. O SPD conseguiu uma vitória que apesar de curta, com 25,7% contra os 24,1% da CDU/CSU, foi suficiente para reivindicar a chefia de uma coligação de governo. Esta reivindicação apoia-se também no que dizem as sondagens: que a maioria dos alemães quer que Olaf Scholz, actual ministro das Finanças na “grande coligação” que junta democratas-cristãos e sociais-democratas, seja o próximo chanceler.

E depois do primeiro dia de conversações entre o SPD, os Verdes e os liberais para tentar chegar a uma coligação, os secretários-gerais dos partidos apresentaram-se ao final do dia aos jornalistas com um tom optimista, prevendo mais conversações na segunda-feira.

O economista do Center for European Reform Christian Odendahl fazia uma comparação entre os caminhos dos conservadores, por um lado, e dos participantes nas conversações para uma coligação, por outro. “As conversações ‘semáforo’ entre o SPD, Verdes e FDP estão a correr sem percalços, embora ainda haja grandes diferenças a colmatar. Mas o profissionalismo das conversações tem um contraste tão marcado com as lutas internas da CDU/CSU que é difícil ver uma coligação ‘Jamaica’”, que seria liderada pela CDU/CSU e incluiria os Verdes e liberais (o nome “Jamaica” é dado a esta combinação por os partidos terem as cores da bandeira nacional jamaicana).

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