Gravatas e saltos altos trocados por conforto no regresso ao escritório

As vendas de vestuário — incluindo roupas, sapatos e cosméticos — cresceram 8,5% nos 12 meses anteriores a Agosto, à medida que o aumento da mobilidade e o regresso ao trabalho presencial passou a ser uma realidade.

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Blanca Lorca na boutique Zubi, em Madrir Reuters/SUSANA VERA
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No El Corte Inglès, de Madrid, as escolhas recaem sobre calçado desportivo e saltos rasos Reuters/SUSANA VERA
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Os homens não procuram gravatas no El Corte Inglès madrileno Reuters/SUSANA VERA
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Branca Lorca a trabalhar a partir de casa no seu apartamento em Madrid Reuters/SERGIO PEREZ
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A fashionista começou a mudar a forma como se veste para trabalhar Reuters/SERGIO PEREZ

A fashionista espanhola Blanca Lorca, 31 anos, já apostou em saltos altos e roupas adequadas para o escritório, mas a pandemia da covid-19 levou-a a mudar o seu estilo e hábitos de compra. Depois de meses a trabalhar no seu elegante apartamento madrileno, a funcionária de uma farmacêutica agora veste tons neutros e roupas mais folgadas nos três dias por semana que vai ao escritório, está a trabalhar num regime híbrido com dias em casa e outros de regresso à empresa.

Dezoito meses a vestir roupa confortável enquanto o teletrabalho foi uma realidade levaram profissionais de toda a Europa a ansiar por guarda-roupas novos, o que é uma bênção para os retalhistas que viram as suas vendas cair durante a pandemia. Mas houve uma mudança e a opção passa por banir as gravatas, os sapatos de salto alto e comprar roupas elegantes o suficiente para ir para o escritório, mas também descontraídas o suficiente para estar via Zoom a partir da bancada da cozinha de casa.

As vendas de vestuário — incluindo roupas, sapatos e cosméticos — cresceram 8,5% nos 12 meses anteriores a Agosto, à medida que o aumento da mobilidade e o regresso ao trabalho presencial passou a ser uma realidade.

Na Grã-Bretanha, mais de um quarto das pessoas entrevistadas pela consultoria de locais de trabalho Office Group disseram que continuariam a vestir-se de forma menos formal, mesmo quando voltassem ao escritório, enquanto quase um terço planeia experimentar estilos diferentes, de acordo com uma nota do Banco da América.

“Depois de ficar em casa durante tanto tempo, a pessoa prefere conforto, mas ao mesmo tempo quer ter estilo o suficiente para poder sair”, resume Lorca, vestindo uma camisa leve e calças de corte largo enquanto examina as prateleiras de uma pequena loja em Madrid, a boutique Zubi. “Procuro roupas que durem, que não saiam de moda e que eu possa usar em todas as circunstâncias.”

Pijamas e zoom

As grandes marcas estão atentas ao mercado. Nos seus sites de venda online, retalhistas como a Zara, a Mango e a H&M apostaram em calças, camisas e vestidos “smart casual”, ao lado de roupas de lazer e desportivas que se tornaram cada vez mais omnipresentes.

Muitas das principais marcas de moda lançaram novas colecções para esta temporada de regresso ao trabalho presencial, à medida que as restrições e as campanhas de vacinação aumentaram a mobilidade. Os grandes armazéns espanhóis El Corte Ingles avançam que a procura por roupas confortáveis para ir trabalhar aumentou durante o Verão, acelerando em Setembro, à medida que as pessoas regressavam aos escritórios e às reuniões presenciais de negócios.

As lojas que alcançam com sucesso os níveis de vendas pré-pandemia são as que vendem roupas de trabalho de um estilo mais casual ou híbrido, de acordo com analistas e fontes do retalho de moda em Londres e Madrid.

Mulheres cujos empregadores determinaram o regresso parcial ao local de trabalho mantiveram as blusas que às vezes usariam por cima das calças de pijama para as reuniões por Zoom, mas agora usam calças confortáveis e sapatos sem salto, descreve Elena Zubizarreta, proprietária da boutique Zubi.

De acordo com um inquérito do CCOO, o maior sindicato espanhol, mais de 78% dos espanhóis estão totalmente vacinados e cerca de 80% de todos os trabalhadores regressaram, pelo menos a meio tempo, ao local de trabalho. Porém, poucos deixaram de perceber as restrições no que ao vestuário informal diz respeito. Alberto Gavilan, director de recursos humanos da agência de recrutamento Addeco, informa que o traje formal agora é a excepção: “A maioria das pessoas vai preferir o código business casual, que se mostrou tão eficaz e confortável nos últimos meses.”

“A moda mudou”

Mais da metade dos espanhóis que se vestiam formalmente para o trabalho antes da pandemia estavam entusiasmados com a compra de roupa para voltar ao escritório, revela uma sondagem feita em Junho pela empresa de pesquisa Dynata. Trata-se da taxa mais alta entre os 11 países inquiridos. Os britânicos e japoneses foram os menos entusiasmados, com 19% e 21%, respectivamente.

O site espanhol de comparação de preços Idealo.es refere que as pesquisas online por agasalhos desportivos caíram 96% de Janeiro a Agosto, com o aumento da taxa de vacinação. “A moda mudou e depois de quase dois anos longe do local de trabalho, a pessoa sente vontade de ter coisas novas para voltar”, diz a especialista em comunicação Valme Pardo, mostrando vestidos estampados, calças largas e blazers elásticos, no seu quarto, em Madrid.

Os homens também anseiam por conforto. Lucia Danero, consultora de compras do El Corte Ingles de Madrid, nota um fluxo de clientes em busca de mudança. Aliás, os homens nunca mais pediram para experimentar gravatas, testemunha. “Antes, era impensável para um homem ir para o escritório com uma camisola com gorro... e agora já vemos isso a acontecer”, aponta, passeando pelos corredores da loja e apontando para empresários de jeans.

“Cidade relaxada”

A tendência é global. As marcas internacionais Vince, Me + Em, Uniqlo e The White Company, bem como retalhistas dos EUA e do Reino Unido, como a Nordstrom e John Lewis, dedicam “espaço no local para artigos de vestuário de trabalho modernos, com forte ênfase para as peças sazonais para garantir versatilidade e longevidade”, refere um relatório recente da Stylis, uma agência que trabalha tendências.

Na verdade, apesar de a mobilidade no local de trabalho ainda estar 30% abaixo das taxas pré-pandemia, as vendas de roupas estão em média 5% mais altas nos principais mercados ocidentais, revela o banco Jefferies numa nota aos seus clientes, em Setembro.

As vendas físicas e online da gigante da moda Inditex foram até 9% superiores em Agosto e na primeira semana de Setembro do que na pré-pandemia. A temporada Outono/Inverno teve um início forte, confirma o presidente executivo da Inditex, Pablo Isla, numa conferência, antes de anunciar que a próxima colecção de Massimo Dutti se chamará “Cidade Relaxada”.

No entanto, mesmo com a recuperação da procura, os retalhistas debatem-se com interrupções nas cadeias de abastecimento globais. As vendas da H&M cresceram menos do que o esperado no terceiro trimestre, antes de serem prejudicadas em Setembro por restrições de oferta.

“Há uma necessidade de a pessoa se arranjar depois de ter passado tanto tempo em casa, acostumamo-nos a estar confortáveis ​​e queremos roupas como blazers e casacos sem forro, calças mais largas e malhas complexas”, diz Ann-Sofie Johansson, consultora criativa da H&M.

Nos bastidores da semana de moda de Madrid, os designers apostam em novos começos, que pareciam incluir vestidos brilhantes e jumpers coloridos. “Os saltos foram deixados para momentos muito específicos. No dia-a-dia, as pessoas livraram-se deles, para ficarem mais confortáveis”, refere a designer espanhola Maite Casademunt, cuja colecção “Comfy Wild” foi dominada por vestidos, roupas com ar mais descontraído e calçado desportivo.


Reportagem de Clara-Laeila Laudette e Corina Pons, em Madrid; com informação adicional de Anna Ringstrom, em Estocolmo; Joyce Philippe e Arriana Mclymore, em Nova Iorque; e Rocky Swift em Tóquio. Edição de Andrew Cawthorne — Reuters

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