Equipa de cinema russa segue num foguetão rumo a uma estreia absoluta: um filme no espaço

Lançamento do engenho, a bordo do qual seguem um realizador e uma actriz, ocorreu esta manhã a partir da base de Baikonur, no Cazaquistão.

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O foguetão descolou esta manhã com uma actriz e um realizador a bordo DR
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Três dos quatro tripulantes da missão DR

Uma tripulação russa constituída por dois cosmonautas, um realizador e uma actriz chegou ao início desta tarde à Estação Espacial Internacional para rodar aquele que será o primeiro filme de sempre no espaço. É o mais recente desenvolvimento em décadas de rivalidade espacial entre a Rússia e os Estados Unidos. O Soyuz MS-19 orbita agora o planeta Terra a uma altitude de cerca de 354 quilómetros.

Os meios de comunicação estatais russos asseguraram uma cobertura patriótica do evento, com um relógio a exibir a contagem decrescente para a descolagem no canal 1 da televisão pública e os pivôs da estação a apontarem que este desenvolvimento é um feito significativo da Rússia seguido atentamente pelo resto do mundo. A NASA transmitiu em directo a viagem do Soyuz russo. 

A pompa do evento contrasta com o estado duvidoso da indústria espacial russa, que nos últimos anos se viu confrontada com atrasos, acidentes e escândalos de corrupção, enquanto empresas privadas sediadas nos Estados Unidos e financiadas por grandes capitalistas desenvolviam novos e mediáticos engenhos espaciais. A actual missão de 12 dias sucede ao lançamento do primeiro foguetão privado exclusivamente tripulado por civis, um projecto da SpaceX, fundada pelo magnata Elon Musk, e pretende justamente poder reivindicar um estatuto pioneiro, antecipando-se ao projecto que juntará o actor Tom Cruise à NASA e à SpaceX.

Há décadas que a Rússia (e a União Soviética, na sua encarnação anterior) e os Estados Unidos competem ferozmente pela conquista de marcas históricas da corrida espacial: a Rússia gaba-se de ter lançado o primeiro satélite e de ter posto o primeiro homem e a primeira mulher no espaço, mas a NASA superou esses feitos ao conseguir aterrar na Lua.

“O espaço é o lugar onde nos tornámos pioneiros e onde ainda mantemos uma liderança confiante, apesar de tudo”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov após o lançamento. “Sim, outros estão a pisar-nos os calcanhares, mas é óbvio que há concorrência no bom sentido. Para o nosso país, um voo como este, que populariza os nossos feitos e o tema do espaço em geral, são boas notícias.”

O filme que agora se rodará no espaço chama-se O Desafio e conta a história de uma médica, interpretada pela actriz Yulia Peresild, chamada a viajar até uma estação espacial para salvar a vida de um cosmonauta. Os restantes membros da tripulação, incluindo os dois astronautas, também aparecerão no filme.

“Foi difícil psicológica, física e emocionalmente…”, disse a actriz, que foi seleccionada entre três mil candidatos ao papel, numa conferência de imprensa na segunda-feira.

O realizador Klim Shipenko, cuja estatura de 1,90 metros torna este voo numa minúscula cápsula especialmente desafiante, já declarou que está ansioso por uma sequela, a rodar em Marte.

Num lembrete das raízes soviéticas da indústria espacial russa, a tripulação partiu do cosmódromo de Baikonur, nas estepes do Cazaquistão, uma ex-república soviética da Ásia Central. A Rússia alugou o complexo para o efeito. O seu próprio cosmódromo, mais recente, situado em Vostochny, não está ainda em condições de acolher o lançamento de engenhos tripulados, dizem fontes oficiais.

Notícia actualizada após a chegada da missão à Estação Espacial Internacional

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