Tensão entre a Sérvia e o Kosovo por causa das matrículas de automóveis

O Presidente sérvio deixou um ultimato à NATO para intervir no conflito e nesta segunda-feira, a missão da aliança transatlântica no Kosovo (KFOR) anunciou ter aumentado a sua actividade no país dos Balcãs.

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Os sérvios étnicos do Kosovo bloqueiam estradas em protesto contra as restrições de Pristina sobre as matrículas sérvias VALDRIN XHEMAJ/EPA

Há uma semana que a fronteira do Kosovo e da Sérvia tem sido palco de novas tensões entre sérvios e kosovares em virtude do Kosovo ter imposto a obrigação de mudança temporária das matrículas dos veículos automóveis sérvios que entram no seu território. Os sérvios protestaram e em resposta o Kosovo enviou forças especiais da polícia para a fronteira, tendo Belgrado destacado militares e aviões para a região.

Os veículos sérvios que queiram entrar no Kosovo têm agora de usar matrículas temporárias válidas por 60 dias. Segundo Pristina, é uma “medida de reciprocidade” tendo em conta as regras impostas pela Sérvia aos veículos do Kosovo que circulam na Sérvia.

O Kosovo, maioritariamente de origem albanesa, declarou unilateralmente a sua independência da Sérvia em 2008 que nunca foi reconhecida por Belgrado. Por isso a Sérvia, que ainda considera o Kosovo como uma província, tem contestado a medida, descrita à Associated Press como uma “acção criminosa” pelo Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, por considerar que só uma nação soberana pode decidir na matéria. 

A medida tem vindo a ser contestada na última semana por centenas de sérvios: com o bloqueio de estradas transfronteiriças, um edifício governamental incendiado e granadas que não explodiram foram atiradas para dentro de outro. “Queremos que Pristina retire as suas forças e anule a decisão sobre as matrículas”, disse um manifestante de 45 anos que se identificou como Ljubo, citado pela AFP.

O envio de forças especiais e blindados para a zona só veio agravar a tensão. “Depois das provocações com as forças [especiais de polícia], Vucic deu ordem para aumentar o estado de alerta do Exército e das forças policiais”, disse o Ministério da Defesa da Sérvia.

“O nosso Exército não está a provocar, mas está pronto para proteger a população”, justificou à AP o ministro da Defesa sérvio, Nebojsa Stefanovic.

Segundo a imprensa local, Belgrado enviou tanques em direcção ao Kosovo no sábado e aviões militares sobrevoaram a fronteira no domingo.

Provocações

O primeiro-ministro kosovar, Albin Kurti, acusou o país vizinho de estar a tentar “provocar um grave conflito internacional” e de “encorajar e apoiar” os ataques individuais contra o Estado do Kosovo. Já Vucic condenou a falta de reacção da comunidade internacional, bem como a “total ocupação do Norte do Kosovo com veículos blindados há mais de uma semana”.

O chefe de Estado sérvio fez um ultimato à Aliança Atlântica no domingo para intervir no conflito: “Se a NATO não actuar, a Sérvia irá reagir” se continuarem os ataques contra os seus cidadãos.

Esta segunda-feira, a missão da NATO no Kosovo (KFOR) referiu que está a “seguir de perto a situação” e anunciou o aumento “do número e da duração das patrulhas em todo” o território, “incluindo a Norte”. Imagens divulgadas pelas redes sociais mostram veículos da KFOR (que está na região desde o final dos anos 1990) a aproximarem-se das barricadas de camiões e outras viaturas junto à fronteira.

Tanto os Estados Unidos como a União Europeia pediram às autoridades sérvias e kosovares para agir de modo a reduzir a tensão. Esta segunda-feira, o porta-voz da diplomacia da UE, Peter Stano, afirmou que Bruxelas disponibiliza uma “plataforma de diálogo” para procurar soluções de compromisso e pôr fim à crise.

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