Multimilionário próximo do rei já formou coligação para governar Marrocos

Partido liberal do marroquino Akhannouch vai liderar uma coligação de três partidos, enquanto os islamistas, que eram a força mais votada desde 2011, passam à oposição.

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Aziz Akhannou no discurso de vitória, depois do anúncio dos primeiros resultados, em Rabat Jalal Morchidi/EPA

O chefe da União Nacional de Independentes, o multimilionário Aziz Akhannouch, próximo do rei Mohammed VI, e vencedor surpreendente das eleições legislativas do início do mês, anunciou esta quarta-feira um acordo entre três partidos para formar um novo governo de coligação em Marrocos.

Akhannouch, ministro da Agricultura desde 2007, foi nomeado por Mohammed VI para tentar formar uma aliança no dia 10 de Setembro, dois dias depois das eleições onde os islamistas moderados do Partido da Justiça e Desenvolvimento (PJD), que lideravam as coligações de governo desde 2011, sofreram uma derrota estrondosa, elegendo apenas 12 deputados, dos 125 que tinham desde 2016.

A força mais votada passou assim a ser o partido liberal RNI (na sigla francesa), de Akhannouch, que conquistou 102 dos 395 membros da Câmara dos Representantes, e vai agora governar com o Partido da Autenticidade e Modernidade (PAM), que tem 87 deputados, e com os conservadores do Istiqlal, que elegeram 81.

O PJD, por seu turno, anunciou que fará oposição ao lado dos partidos de esquerda, área política onde o mais votado foi a União Socialista das Forças Populares (USFP), com 34 deputados.

Com 270 deputados, a nova coligação contará com uma maioria confortável. Segundo Akhannouch, os três novos parceiros de governo chegaram a uma plataforma comum focada em reformas económicas e sociais.

Durante a campanha, o partido do empresário (dono de uma das maiores fortunas da monarquia) e político fez promessas ambiciosas, incluindo criar um milhão de empregos para impulsionar a saída da crise provocada pelos impactos da pandemia e agravada pela seca, dar seguro saúde a todos os marroquinos, aumentar os salários dos professores e criar uma pensão mínima garantida.

O acordo negociado por Akhannouch ainda terá de ser aprovado pelo rei. De acordo com a reforma constitucional promovida por Mohammed VI em 2011, logo no início das chamadas Primaveras Árabes, e aprovada meses depois em referendo, o primeiro-ministro preside ao conselho de Governo, que delibera a política geral “antes da apresentação ao conselho de ministros, presidido pelo rei”. É também ao chefe de Governo que cabe nomear ministros e governadores, mas o rei tem poder de veto.

Na prática, Mohammed VI tem amplos poderes na definição da agenda económica no país de 37 milhões de habitantes e cabe ao novo governo pôr em prática o modelo de desenvolvimento já desenhado pelo palácio. 

Akhannouch surpreendeu ao ser eleito para a liderança do RNI, em 2016, para o lugar ocupado pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Salaheddine Mezouar. Em 2018, muitos deram a sua carreira política como moribunda, quando as bombas de gasolina da sua empresa Afriquia, a principal distribuidora de combustíveis em Marrocos, estiveram no centro de um boicote sem precedentes, um movimento que foi interpretado como visando especificamente o empresário.

Volta a surpreender agora com as legislativas onde fez do RNI a formação mais votada, “um resultado sem precedentes na história deste partido, fundado em 1978 pelo cunhado de Hassan II, Ahmed Osman”, como recorda a edição francesa do site Middle East Eye.

Agora que chegou à chefia do governo, os analistas não esperam que o multimilionário venha a colocar qualquer desafio à monarquia e ao seu controlo da política marroquina. Akhannouch é conhecido pela sua proximidade a Mohammed VI e ao seu conselheiro Fouad Ali el-Himma (que gere a fortuna do rei), frequentando o palácio desde os anos 1990.

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