Esclarecimentos ao direito de resposta de António Costa

Ao contrário do que [António Costa] afirma, não se trata de um conjunto de palavras textuais do Sr. Primeiro-Ministro, mas de um juízo de valor político que, como cidadão e professor, tenho toda a liberdade de elaborar.

Senhor Primeiro-Ministro, Dr. António Costa,

Excelência,

1. Utilizo o tratamento protocolar adequado ao líder do órgão de soberania Governo com o qual V. Exa. assina o direito de resposta que, em boa hora, entendeu escrever quanto ao meu texto, ontem publicado.

2. No mesmo, escreve o Sr. Primeiro-Ministro o seguinte:“'Por respeito com os leitores do PÚBLICO que se podem deixar iludir pela autoridade de quem se assina como ‘Professor da Faculdade de Direito da Universidade do Porto'” (…).

3. Por comodidade, usando o dicionário em linha da Priberam, na entrada infâmia, de entre outros significados, lê-se acto ou dito que revela sentimentos vis e calúnia.

4. Deselegante é dizer, em primeiro lugar, que o PÚBLICO me deu publicidade, pois pode ser interpretado como parecendo que o Sr. Primeiro-Ministro convive mal com opiniões diversas e ignora que neste jornal nunca senti qualquer tipo de pressão para escrever ou não isto ou aquilo – é a liberdade de expressão e de imprensa. Por outro lado, gosto de pensar pela minha cabeça, assumindo o risco de errar, como humano que sou, com a leveza de não me guiar por lealdades de qualquer tipo, o que faz com que umas vezes concorde com V. Exa. e outras não – é a democracia a funcionar, como nos ensinou o já saudoso Presidente Jorge Sampaio. 

5. O mesmo se diga quanto a considerar que os leitores deste jornal se podem deixar iludir por alguém que não só se assina, como diz V. Exa., como efectivamente é professor de uma Universidade (de novo, uma simples pesquisa na internet não me deixa mentir). Trata-se da minha actividade principal, que amo, e vale tanto como assinar jornalista, economista ou serralheiro.

6. A todas e a todos tenho por pessoas inteligentes e capazes de formarem as suas próprias opiniões. Dito de outro modo, V. Exa. utiliza a indicação da minha profissão e uma suposta autoridade que não possuo para afirmar que é um meio de enganar os nossos concidadãos. Está tudo dito quanto à forma como vê o ofício de professor universitário e, isso sim, é algo que nunca pensei ler da parte de um Primeiro-Ministro.

7. No que concerne à citação que faz do meu artigo (de opinião, note-se), para além de lhe agradecer o tempo e interesse que despendeu na sua leitura, porquanto a agenda de V. Exa. como chefe de Governo e como secretário-geral do PS é muito carregada, convido-o a ver o programa do Ricardo Araújo Pereira do último domingo, onde há uma sucessão de imagens que documentam a conclusão a que cheguei. Conclusão que, naturalmente, ao contrário do que afirma, não se trata de um conjunto de palavras textuais do Sr. Primeiro-Ministro, mas de um juízo de valor político que, como cidadão e professor, tenho toda a liberdade de elaborar. Fosse uma afirmação exacta das palavras de V. Exa. e as aspas estariam na frase que fez o obséquio de citar, o que não sucede.

Muito grato pelo seu direito de resposta, que assim enriquece o espaço da opinião democrática no nosso país, apresento a V. Exa. os meus melhores cumprimentos, desejando-lhe as maiores venturas pessoais e profissionais,

André Lamas Leite

Sugerir correcção
Ler 70 comentários