Manuel Ferreira Patrício (1938-2021): um percurso com sentido

Por razões de saúde, Manuel Ferreira Patrício não veio a escrever mais textos. Esperávamos, porém, que não se “retirasse desta vida” e que nos continuasse a iluminar com a sombra da sua presença e do seu exemplo de um “percurso com sentido”.

Saudamos a recente publicação da obra Percursos com Sentido (Janeiro de 2021), promovida pela ANÉIS: Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação, sobretudo pela sua pertinência. Com efeito, em tempos de crescente conformismo com a mediocridade, quando não de apologia da pequenez (em particular, nos nossos “mass media”), nada mais pertinente do que, em contra-corrente, apontar para o mais alto, para a excelência.

Em diversas áreas – nomeadamente: Artes, Cidadania, Desporto, Empresariado, Investigação, Ciência e Literatura – são alguns exemplos (ou contra-exemplos porque exemplos em contra-corrente) de excelência que esta obra nos oferece, presenteando-nos com quinze entrevistas a personalidades de referência nessas áreas: Adriano Moreira, Afonso Cruz, Alice Vieira, Ana Pires, Diná Azevedo, Francisca Van Dunem, Fernanda Ribeiro, Filipe Pinto-Ribeiro, Januário Torgal Ferreira, Manuel Antunes, Maria Leonor Pires de Freitas Campos, Nuno Delgado, Olga Roriz, Rui Nabeiro e Sobrinho Simões.

Sem esquecer nenhum dos outros prestigiados nomes que a esta obra deram também o seu contributo – nomeadamente, o autor do Posfácio, António Sampaio da Nóvoa, e os organizadores da mesma, Alberto Rocha, Emílio Ferreira, Jorge Olímpio Bento e Leandro S. Almeida –, seja-nos, porém, permitido destacar aqui o nome de Manuel Ferreira Patrício, nosso Amigo e Mestre, entretanto falecido a 11 de Setembro deste ano, autor do Prefácio com que se inicia este livro, datado de 27 de Agosto de 2020.

Nestes longos meses de confinamento pandémico, muito do nosso tempo foi dedicado à edição das suas “Obras Escolhidas” – seis extensos volumes, de mais de seiscentas páginas cada um, que coordenámos com Samuel Dimas, professor da Universidade Católica Portuguesa e nosso colega na Direcção do MIL: Movimento Internacional Lusófono, entidade responsável pela publicação. A Antologia foi entretanto finalizada e, por isso, este seu texto, que só agora tivemos a oportunidade de ler, não integra essa edição. O que lamentamos, desde logo por estas suas palavras, que muito nos tocaram: “Retiro-me desta vida com a certeza de que não foi em vão o meu percurso, pois foi um percurso com sentido.”

E daí, talvez não integrássemos o texto: sobretudo, por ser uma evidente “despedida”, que não estávamos ainda prontos para aceitar. Por razões de saúde, Manuel Ferreira Patrício não veio a escrever mais textos. Esperávamos, porém, que não se “retirasse desta vida” e que nos continuasse a iluminar com a sombra da sua presença e do seu exemplo de um “percurso com sentido”. Quando, em Abril deste ano, recebeu, em primeira mão, os seis exemplares das suas “Obras Escolhidas”, vimo-lo sorrir e reiterar isso mesmo: foi, de facto, um “percurso com sentido”. Quando chegar a nossa Hora, tomara que cada um de nós possa dizer o mesmo. Com igual fundamento e convicção.

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17 de Abril de 2021, com Samuel Dimas: entrega a Manuel Ferreira Patrício, em sua casa, em Montargil, das suas “Obras Escolhidas” DR

Post Scriptum: Professor catedrático e antigo reitor da Universidade de Évora, presidente e grande animador e mentor da Associação da Educação Pluridimensional e da Escola Cultural, membro efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e do MIL: Movimento Internacional Lusófono, Manuel Ferreira Patrício, ao longo de uma vida de reflexão, de estudo e de intensa acção cultural e educativa, afirmou-se como uma figura de invulgar relevo no panorama da meditação sobre a formação do homem, que denominou antropagogia, bem como da hermenêutica do pensamento português contemporâneo, como exemplarmente o documentam os seus estudos de referência sobre Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e António Sérgio, entre muitos outros.

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