Rendas elevadas e impacto do turismo dominaram debate de candidatos ao Porto

Sete dos 11 candidatos à autarquia do Porto discutiram o que consideram ser os problemas centrais da cidade: falta de habitação, rendas excessivas e impactos negativos do turismo.

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Rui Moreira recandidata-se à presidência da Câmara do Porto LUSA/RUI MANUEL FARINHA

A habitação e o turismo dominaram o debate que juntou sete dos 11 candidatos à câmara do Porto no debate transmitido pela TVI, esta quinta-feira. O actual autarca Rui Moreira, que lidera as intenções de voto nas sondagens mais recentes, reconheceu que a cidade “tem dores de crescimento”, mas notou que existem hoje “mais parques, mais escolas”, afastando a tese de que as 5 mil pessoas que saíram do Porto fugiram da cidade.

“Houve algumas que morreram”, desvalorizou, na sua intervenção inicial. A falta de regulamentação do alojamento local, a ausência de um pano estratégico de gestão do turismo e as poucas respostas de habitação social foram apontadas como as principais causas para uma zona histórica “vazia” e uma cidade “cada vez mais descaracterizada”, deixada aos turistas. Os sete candidatos falaram ainda (mas pouco) dos problemas de mobilidade da cidade e do envelhecimento populacional.

A segunda intervenção da noite coube ao socialista Tiago Barbosa Ribeiro, que, recordado do papel que o PS teve no primeiro mandato de Rui Moreira enquanto responsável pelo pelouro da habitação, reclamou para o vereador socialista o mérito da requalificação do Mercado do Bolhão. O socialista lembrou ainda que quando o PS deixou a vereação, em 2017, a autarquia tinha uma capacidade de resposta à habitação social a rondar os 46%. “Hoje é metade”, sublinhou. O também deputado repetiria várias vezes ao longo do debate que “os portuenses hoje não têm qualidade de vida”.

Pelo PSD, Vladimiro Feliz, antigo vereador e ex-vice de Rui Rio na autarquia, acusou Rui Moreira de estar preso ao “revisionismo histórico"​ e criticou a organização e mobilidade da cidade. “Tiveram que me ir buscar de mota a meio do caminho para que pudesse chegar a este debate a tempo. Isto mostra o caos em que o Porto está”, exemplificou.

Também Ilda Figueiredo, actual vereadora sem pelouro, sinalizou a especulação imobiliária como um dos principais problemas da cidade e apontou o dedo à ausência de “uma política de contenção de alojamento local”. “A grande perda da cidade são as pessoas”, afirmou, lamentando a “descaracterização” das zonas históricas devido à forte exploração do sector do turismo.

A vereadora da CDU afirmou que “uma população imensa do Porto vive com imensas carências, também porque a política nacional não investiu o que devia”, o que levaria o social-democrata Vladimir Feliz a lembrar a candidata que o Governo socialista teve o apoio do PCP e do PEV.

Já António Fonseca, candidato do Chega e actual presidente da União de Freguesias do centro histórico do Porto, lamentou que não se tenha apostado na habitação para jovens. Para o candidato, “é fundamental repovoar a cidade com jovens”, pois o Porto está “a ficar velho” e a tornar-se “numa estância turística”, considerou. O candidato do Chega defendeu ainda a criação de uma rede de videovigilância em toda a cidade, bem como a presença diária de agentes de autoridade na abertura e encerramento dos estabelecimentos de ensino, para “melhorar a segurança”.

Pelo PAN, Bebiana Cunha também insistiu que “não houve uma política de habitação estruturada”, acrescentando que o programa de 2013 não foi concretizado nos últimos anos. A deputada à Assembleia da República lamentou ainda que não exista um plano de turismo, que permita gerir os recursos da cidade, sem prejudicar ou expulsar os que nela habitam, garantindo qualidade de vida aos portuenses. “São precisas respostas de proximidade que são fundamentais quando falamos em qualidade de vida, tais como como parques infantis, parques para animais”, sustentou.

Também o sociólogo bloquista Sérgio Aires responsabilizou a “monocultura do turismo”, uma “indústria que continua a perpetuar a precariedade no trabalho”. Além disso, “a riqueza da cidade não fica na cidade”, acrescentou. O bloquista criticou ainda a reabilitação urbanística da cidade.

“Muita da reabilitação turística é fachada”, acusou, denunciando que muitas vezes o interior dos edifícios não usufrui de reabilitação estrutural. Sobre o combate à insegurança, no lugar do aumento da vigilância, Sérgio Aires defendeu o combate à pobreza. “O modelo que escolhemos para a cidade cava as desigualdades e aumenta a pobreza e a pobreza é uma das principais responsáveis pela situação [de insegurança] que temos nestas franjas da população”, argumentou.

Depois de ouvir repetidamente os candidatos apontarem a crescente descaracterização do património, Rui Moreira desvalorizou as críticas e elogiou o papel do turismo na reabilitação da economia e na promoção da imagem internacional da cidade. “As pessoas não saíram da cidade por causa do turismo”, defendeu o autarca.

Rui Moreira garantiu ainda que durante o seu mandado foi melhorada a capacidade energética das casas e justificou-se dizendo que algumas intervenções em bairros sociais não foram possíveis porque a câmara não pode intervir em casas privadas, referindo-se a uma parcela de habitações vendidas a 10 mil euros.

A lista completa de candidatos:

André Eira (Volt); António Fonseca (Chega); Bebiana Cunha (PAN); Bruno Rebelo (Ergue-te); Diamantino Raposinho (Livre); Diogo Araújo Dantas (PPM); Ilda Figueiredo (CDU); Rui Moreira (Movimento Aqui há Porto); Sérgio Aires (BE); Tiago Barbosa Ribeiro (PS); Vladimiro Feliz (PSD).

A Câmara do Porto é liderada por Rui Moreira, cujo movimento elegeu sete mandatos nas autárquicas de 2017, aos quais se somam quatro eleitos do PS, um do PSD e um da CDU.

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