Bolsonaro usou dados falsos para afirmar que mortes da covid-19 foram inflacionadas

O vice-presidente da comissão parlamentar que investiga a gestão da pandemia do Governo brasileiro, afirmou que “podemos estar perante um crime contra a fé pública e um caso de falsificação de documentos”, referindo-se à adição do logótipo do Tribunal de Contas da União.

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O Presidente brasileiro usou os dados em Junho passado, acusando prefeitos e governadores de "inflar" esses números para receber mais recursos financeiros para enfrentar a crise de saúde ADRIANO MACHADO/Reuters

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro – que investiga a resposta do Governo federal à pandemia – apurou que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, usou dados falsos para afirmar que o número de mortos por covid-19 foi inflacionado por governadores e prefeitos.

A comissão parlamentar ouviu na terça-feira o depoimento de Alexandre Marques, funcionário do Tribunal de Contas da União (TCU), que admitiu ser autor de um documento de trabalho que Bolsonaro citou como se fosse um documento oficial daquele órgão fiscalizador, para afirmar que o país teve pelo menos “50% menos mortes” por covid-19 do que o anunciado pelos dados oficiais.

O Presidente fez essa afirmação em Junho passado, quando o país já registava 475 mil mortes pelo novo coronavírus e acusou prefeitos e governadores de “inflar” esses números para receber mais recursos financeiros para enfrentar a crise de saúde.

A informação foi negada na época pelo TCU, mas mesmo assim Jair Bolsonaro insistiu que “documentos” daquele órgão admitiam a possibilidade de que as mortes de covid-19 estivessem a ser fraudulentamente exageradas.

O funcionário do TCU especificou perante a comissão que este documento de trabalho era apenas parte de uma discussão preliminar que foi deixada de lado quando se constatou que não houve fraudes no número de mortos, antes pelo contrário, o que poderia haver era “subnotificação” devido à falta de testes em muitas zonas do país.

“Foi uma discussão muito inicial”, explicou Marques, que confessou ter enviado este documento de trabalho ao pai, o coronel Ricardo Silva Marques, que por sua vez enviou ao Presidente brasileiro.

“Meu pai é amigo do Presidente e mandou para ele. Fiquei indignado com isso, porque nunca imaginei que ele fosse compartilhar com ninguém”, declarou.

O funcionário do TCU esclareceu ainda que no documento que o Presidente fez circular em alguns grupos de mensagens havia sido acrescentado o logótipo do TCU, que não constava do documento original que havia enviado ao pai.

Segundo Marques, o discurso do Presidente brasileiro com base nesse documento de trabalho foi “totalmente irresponsável”.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI da pandemia, a inserção do logótipo do TCU “para dar carácter oficial” a esse documento pode significar algo mais sério do que a própria divulgação de informações falsas.

“Podemos estar perante um crime contra a fé pública e um caso de falsificação de documentos”, declarou Rodrigues, apoiado por outros senadores da oposição.

A comissão parlamentar, que investiga acções e possíveis omissões do Governo brasileiro diante da pandemia, já apurou negociações irregulares com vacinas e também outros assuntos suspeitos, como a distribuição de medicamentos ineficazes contra o novo coronavírus na rede pública de saúde.

O Brasil registou 569.492 vítimas mortais e 20.378.570 casos de covid-19 desde o começo da pandemia.

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