Hashtag “HelpTurkey” investigada por criar “medo” sobre os incêndios na Turquia

Governo turco tem sido acusado de má gestão e desorganização no combate aos incêndios, mas o Presidente Erdogan acusa as publicações de serem “terror gerado por mentiras”.

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Turquia tem sido assolada por incêndios e a resposta do Governo está a ser criticada pelos opositores UMIT BEKTAS/Reuters

O Ministério Público de Ancara abriu uma investigação sobre as publicações nas redes sociais com a hashtag “​HelpTurkey”​ que criticam o Governo pela alegada resposta insuficiente aos incêndios devastadores dos últimos dias na Turquia e que pedem ajuda internacional para os combater. As autoridades dizem que as publicações daquele género espalham “ansiedade e medo” à população.

A hashtag explodiu nas redes sociais depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter sido fotografado numa visita a uma das regiões afectadas pelas chamas com uma escolta policial. Num autocarro em andamento, durante a noite, Erdogan atirava sacos de chá aos locais enquanto anunciava a sua presença num megafone.

O Presidente turco parece ter ficado surpreendido com a ideia de que o seu país precisava de ajuda estrangeira para lidar com o que classificou serem os piores incêndios da história da Turquia.

Mas o Governo turco tem enfrentado acusações de má gestão e de resposta inadequada e ficou ainda mais debaixo de críticas depois de admitir que o país não tem meios aéreos para combater os incêndios. Erdogan rejeitou-as, porém, e acusou os opositores internos e externos de estarem a politizar a crise.

“Em resposta a isto, apenas podemos dizer uma coisa: Turquia Forte”, disse Erdogan sobre as publicações, que acusa de serem “terror gerado por mentiras propagadas pela América, Europa e outros sítios”.

O Ministério Público anunciou que vai investigar as publicações que, argumenta, têm como objectivo mostrar o país e o Governo como “incapazes” de combater as chamas e “tentam criar o pânico, medo e preocupar o público”. Acrescentou ainda que as acusações incluem também “insultos a um funcionário público”, “insultos ao Presidente” e “insultos ao Governo e ao Estado”.

O Governo tem vindo a afirmar que o movimento #HelpTurkey​ é alimentado por “sock puppets” (contas falsas criadas para manipular a opinião pública).

Citado pelo Guardian, Marc Owen Jones, professor assistente na Universidade Hamad bin Khalifa no Qatar, disse num evento organizado pela presidência que a sua análise demonstrou que até 5% das partilhas estavam a ser divulgadas por contas falsas.

Mas, segundo Gareth Jenkins, analista turca, o Governo merece críticas, já que “supervisiona milhares de contas falsas, que usam para provocar e intimidar até silenciar quem questionar a sua narrativa”.

“Creio que um problema muito maior seja que um largo número de turcos, incluindo muitos que são próximos de Erdogan, acreditem na propaganda do regime”, disse à AFP.

Enquanto isso, o regulador dos órgãos de comunicação social ameaçou multar os canais televisivos que continuem a transmitir as imagens ou notícias sobre os incêndios que “provoquem o medo ou preocupação no público”. A maioria das estações cumpriu as directrizes.

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