Polícias agredidos na invasão do Capitólio dizem-se traídos pelo Partido Republicano

Quatro agentes ouvidos na comissão de inquérito da Câmara dos Representantes sobre os acontecimentos de 6 de Janeiro relataram momentos em que temeram pelas suas vidas, às mãos de centenas de apoiantes de Donald Trump.

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Aquilino Gonnel, da polícia do Capitólio, foi um dos polícias ouvidos esta terça-feira Reuters/JIM BOURG
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Daniel Hodges, da polícia de Washington D.C. EPA/Andrew Harnik / POOL
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Harry Dunn, agente da polícia do Capitólio EPA/Oliver Contreras / POOL
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Michael Fanone, da polícia de Washington D.C. EPA/Andrew Harnik / POOL
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O congressista republicano Adam Kinzinger agradeceu o trabalho dos agentes e criticou o seu partido EPA/Oliver Contreras / POOL

Pela primeira vez desde a invasão do Capitólio dos Estados Unidos da América, a 6 de Janeiro, os norte-americanos puderam ver e ouvir, esta terça-feira, o relato da violência daquele dia pela boca de polícias que foram agredidos e ameaçados de morte por apoiantes do ex-Presidente Donald Trump.

Um a um, perante os membros de uma comissão da Câmara dos Representantes que começou a investigar os acontecimentos de 6 de Janeiro, os agentes Aquilino Gonell, Harry Dunn, Michael Fanone e Daniel Hodges descreveram como se viram “atirados para um picador de carne” na linha da frente da invasão.

Segundo os agentes, a missão das forças de segurança naquele dia foi impedir, com poucos meios e sem reforços durante várias horas, que os apoiantes de Trump chegassem a todos os compartimentos do edifício do Congresso dos EUA para atacarem os congressistas e os senadores, e também o então vice-presidente norte-americano, Mike Pence.

Nesse dia, Pence era o responsável, na sua qualidade de presidente do Senado, pela cerimónia de certificação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial de 2020. Por não ter aceitado as ordens de Trump para alterar o resultado da eleição, passou a ser um dos alvos da fúria dos apoiantes do ex-Presidente norte-americano.

“Eles disseram-me que tinham sido convidados pelo Presidente Trump e que ninguém tinha votado em Biden”, contou o agente Harry Dunn, da polícia do Capitólio. “Eu respondi que eu tinha votado em Biden, e perguntei-lhes se o meu voto não contava para nada. Foi então que começaram a gritar ‘Este fucking nigger [preto de m...] votou no Biden!’”

No único momento de descontracção durante as mais de quatro horas de audições, o agente Daniel Hodges, da polícia de Washington D.C., usou o humor para comentar a ideia de que os invasores eram “turistas americanos” — uma tese avançada por congressistas republicanos, nos últimos meses, para desvalorizarem a gravidade da invasão.

“Se eram, percebo porque é que os turistas americanos não são bem-vindos no estrangeiro”, disse Hodges, provocando uma gargalhada na sala da Câmara dos Representantes onde decorreram as audições.

"Desci ao Inferno"

Visivelmente traumatizados, os polícias interromperam várias vezes os seus testemunhos para se recomporem do choro e de acessos de raiva dirigidos aos republicanos que têm desvalorizado os acontecimentos de 6 de Janeiro.

“Custa-me saber que muitas das pessoas pelas quais eu arrisquei a vida desvalorizam ou negam o que aconteceu”, disse Michael Fanone, da polícia de Washington D.C. “Desci ao Inferno para defender pessoas que estão nesta sala; agora, muitas delas dizem-me que o Inferno não existe ou que não é assim tão mau.”

Em mais um sinal das divisões na política dos EUA, a comissão que investiga a invasão do Capitólio conta com apenas dois republicanos (Adam Kinzinger e Liz Cheney), no meio de sete do Partido Democrata.

Um dos momentos mais emotivos foi protagonizado pelo republicano Adam Kinzinger, que não conteve as lágrimas quando agradeceu aos polícias o facto de terem arriscado as suas vidas.

“Sou republicano e sou conservador, mas nós estamos aqui para descobrir factos e para pôr fim a teorias da conspiração”, disse Kinzinger.

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