Governo chinês acusa EUA de verem a China como “inimigo imaginário”

Troca de acusações entre os governos dos dois países continua a agravar-se e preocupa vários observadores, que olham para os raros encontros diplomáticos como uma forma de se evitar um confronto directo.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, disse que a China pode "dar uma boa lição" aos EUA China Daily CDIC

O ambiente de tensão nas relações entre os governos da China e dos Estados Unidos da América ficou ainda mais pesado esta segunda-feira, com os líderes da diplomacia chinesa a acusarem a Administração Biden de “demonizar” a China e a prometerem dar “uma boa lição” aos norte-americanos.

“Quando precisam de alguma coisa, os EUA exigem cooperação; quando acham que estão em vantagem, afastam-se e aplicam sanções”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Xie Feng, num comunicado. Na mesma declaração, citada pela BBC, Xie disse que os EUA tratam a China como “um inimigo imaginário”.

As declarações de Xie foram conhecidas horas antes do arranque de uma reunião, na cidade chinesa de Tianjin, entre o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e a vice-secretária de Estado norte-americana, Wendy Sherman.

O encontro em Tianjin realiza-se quatro meses depois da primeira reunião bilateral desde que Joe Biden chegou à Casa Branca, que decorreu no Alasca e ficou marcada por uma dura troca de acusações e ameaças veladas entre Wang e o seu homólogo dos EUA, Antony Blinken.

Na reunião no Alasca, o secretário de Estado norte-americano ouviu o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês a acusar os EUA de não estarem numa posição de “dar lições” sobre direitos humanos, depois de Blinken ter criticado a detenção em massa e os abusos contra a minoria uigur na província chinesa de Xinjiang — abusos documentados por várias organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, que o Governo chinês nega e diz tratar-se de um assunto internos.

No encontro no Alasca, a delegação chinesa voltou a usar o processo de perseguição e expulsão das tribos nativas do território dos EUA, no século XIX, e as questões raciais entre brancos e afro-americanos, que persistem no país, como exemplos de que os EUA “têm de melhorar o seu registo em matéria de defesa dos direitos humanos”.

Em resposta, Antony Blinken disse que a diferença entre os dois países é que os EUA reconhecem que são “uma união imperfeita” e “enfrentam as suas imperfeições de forma aberta e transparente, e não fingindo que elas não existem”.

Dar “uma boa lição"

Esta segunda-feira, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês voltou a acusar os EUA de partirem de uma posição de “arrogância” nas suas conversações com a China, e reafirmou que o seu Governo irá reagir de forma dura a qualquer iniciativa norte-americana para rotular os abusos em Xinjiang como um genocídio.

As declarações de Xie, conhecidas esta segunda-feira, reforçam um ataque da diplomacia chinesa contra os EUA que foi lançado, no sábado, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da China. Numa entrevista ao canal de Hong Kong Phoenix TV, Wang Yi disse “é responsabilidade da China, em conjunto com a comunidade internacional, dar aos EUA uma boa lição sobre o relacionamento com outros países em pé de igualdade”.

“Quero dizer aos EUA que não existe nenhum país que seja superior a quaisquer outros, e a China não aceitará que nenhum país apregoe a sua superioridade”, disse Wang.

Em declarações ao canal CNN, o professor e analista político Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que a relação entre os EUA e a China atingiu “um ponto baixo histórico”. Neste contexto, reuniões como a que junta as delegações norte-americana e chinesa em Tianjin, esta segunda-feira, tem como principal objectivo evitar o descontrolo da situação e o início de um conflito directo.

“Se as negociações correrem bem, é possível que Joe Biden e Xi Jinping se encontrem na cimeira do G20 em Itália, em Outubro”, disse Lam, salientando que esse cenário é, para já, pouco provável. 

“Os chineses já rejeitaram a realização de encontros entre o secretário da Defesa dos EUA e o líder do Comité Central Militar da China, e também não receberam com entusiasmo a proposta para a abertura de uma linha directa de emergência entre os dois países”, salientou o analista.

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