China sanciona responsáveis dos EUA e do Canadá em resposta a sanções por causa da repressão aos uigures

Pequim continua a retaliar contra medidas anunciadas no início da semana numa acção coordenada de Bruxelas, Londres, Washington e Otava. Autoridades chinesas são acusadas de genocídio em Xinjiang.

Foto
Uigures com familiares desaparecidos em Xinjiang manifestam-se contra a repressão chinesa num protesto em Istambul, na Turquia LUSA/SEDAT SUNA

A China impôs este sábado sanções contra responsáveis de dois grupos de direitos religiosos dos Estados Unidos e um deputado canadiano, em resposta às sanções impostas há dias por Washington e Otava a dirigentes políticos da província de Xinjiang, acusados de “abusos e violações graves de direitos humanos” contra a minoria muçulmana uigur. A retaliação de Pequim surge um dia depois do anúncio de sanções contra nove cidadãos britânicos, incluindo cinco deputados, e da promessa de que vai sancionar membros do Comité Político e de Segurança da União Europeia, assim como eurodeputados.

As sanções contra os dirigentes chineses foram decididas pelos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 durante uma reunião do Conselho da União Europeia, na segunda-feira, e seguidas, de imediato, pelo anúncio de sanções idênticas por parte do Reino Unido, EUA e Canadá, no que o representante para a Política Externa da UE, Josep Borrell, descreveu como “uma coordenação perfeita”.

Os novos alvos das medidas chinesas são o presidente e vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional (grupo que aconselha a Administração americana), Gayle Manchin e Tony Perkins, afirmou em comunicado o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Sancionado será também o canadiano Michael Chong, vice-presidente da comissão de Negócios Externos e Desenvolvimento do Parlamento de Otava, assim como o subcomité dedicado aos Direitos Humanos Internacionais, que tem oito membros e este mês apresentou um relatório que concluiu que as atrocidades cometidas em Xinjiang constituem um genocídio e crimes contra a humanidade.

Já em Fevereiro, a Câmara dos Comuns do Canadá aprovou uma moção não vinculativa que qualifica o tratamento das autoridades chinesas à minoria uigur, particularmente na província de Xinjiang, como “genocídio”. A mesma acusação tem sido repetida em numerosas relatórios e investigações jornalísticas e de organizações de direitos humanos.

Entre outras atrocidades, a ONU acredita que mais de um milhão de uigures estão detidos nas centenas de campos que a China construiu nos últimos anos e de onde chegam denúncias de tortura e trabalhos forçados. Pequim fala de campos de “reeducação” para combater o terrorismo, de acordo com as “regras internacionais”.

“O Governo está firmemente decidido a salvaguardar a sua soberania e segurança nacionais e os seus interesses de desenvolvimento, e apela às partes relevantes para compreenderem claramente a situação e reverem os seus erros”, lê-se no comunicado do Ministério chinês. “Têm de parar com a manipulação política em assuntos relacionados com Xinjiang e de interferir nos assuntos internos da China”, acrescenta o texto.

Todos os alvos das sanções de Pequim ficam impedidos de entrar na China, em Hong Kong e em Macau, ao mesmo tempo que os cidadãos e instituições chinesas ficam proibidos de fazer quaisquer negócios com os cidadãos envolvidos ou de manterem contactos com o subcomité parlamentar canadiano.

Pequim e Moscovo unidos contra sanções

A par da China, Bruxelas publicou uma lista de 11 indivíduos e quatro entidades colectivas da Coreia do Sul, Líbia, Sudão do Sul, Eritreia e Rússia incluídos no primeiro pacote de sanções da UE ao abrigo do novo regime para punir abusos e violações graves de direitos humanos. Reunidos em Moscovo, os ministros dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, e chinês, Wang Yi, pediram em resposta uma cimeira dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas para debater a “turbulência política crescente no mundo”.

Os dois dirigentes defenderam que “os países devem unir-se em oposição a todas as formas de sanções unilaterais” e apontaram o dedo ao bloco europeu mas também aos EUA, cujas intenções dizem ter uma “natureza destrutiva” e visar “minar a arquitectura legal internacional centrada da ONU”. Moscovo foi alvo de sanções de Washington e Bruxelas por causa do envenenamento do opositor Alexei Navalny, detido na colónia penal IK-2. Os seus apoiantes disseram na quinta-feira que estão alarmados com o seu estado de saúde.

Sugerir correcção
Comentar